10.11.2020

Trabalho Home Office & Cuidado e Atenção com a equipe

Por Cristina Orpheo – Diretora Executiva do Fundo Casa Socioambiental

 

*Na foto: Colegas de quatro patas nunca gostaram muito das longas viagens dos humanos, agora podem ficar juntinhos durante o home office. Da esquerda pra direita: Maria Amália, Cristina Orpheo, Vanessa Purper e Attilio Zolin.

 

Nunca se falou tanto em trabalho home office como em 2020. A sensação de quem começou agora a trabalhar dessa forma é de que nunca trabalhou tanto! Enquanto uma fatia da população sofre os efeitos da pandemia sem trabalho, com perda de seus empregos, uma outra parte tem trabalhado de 12 a 14 horas por dia. O home office, que parecia ser um sonho de trabalho para muitos, se transformou numa carga pesada, com longas jornadas diárias e um grande acúmulo de tarefas.

Há quase 10 anos coordeno uma equipe em sistema home office. O que aprendi nesse tempo me ajudou a enfrentar a pandemia e fazer os ajustes adequados rapidamente para  cuidar de nossa equipe. Coordenar uma equipe a distância exige algumas mudanças de paradigmas.  Novos arranjos e acordos precisam ser criados, entre eles: estabelecer um sistema de controle de tempo e resultados, entender a flexibilidade nos horários, definir os trabalhos por entregas e prazos, criar formas inovadoras de engajar a equipe, cuidar dos vínculos entre todos, estar atenta à comunicação interna, estabelecer processos e políticas claras e, finalmente estar muito alerta a todos os sinais e nuances nas relações para evitar qualquer tipo de ruído entre a equipe.

Trabalhar à distância exige outro tipo de liderança.  Se você é um chefe controlador você está perdido para liderar uma equipe a distância, pois o trabalho home office exige confiança e desapego.  É necessário criar um ambiente em equipe toda se sinta conectada entre si, desenvolva um companheirismo diário, se apoie mutuamente nas necessidades individuais,  é isso que vai criando os vínculos que fazem a diferença no resultado esperado e na eficiência institucional mesmo sem estar todos no mesmo espaço.

Reuniões, oficinas e seminários no formato online vieram pra ficar e já fazem parte da rotina diária. Foto: Claudia Gibeli

O Fundo Casa foi desenhado desde sua origem para o trabalho em home office. Nunca conhecemos outra forma.  Sempre acreditando que esse sistema não estava somente à frente do seu tempo, mas era a forma mais eficiente de oferecer qualidade de vida à equipe enquanto mantinha os custos operacionais aceitáveis e seu maior orçamento fosse para doação aos grupos.  Nossa missão institucional é apoiar grupos de base comunitária em toda a América do Sul a proteger os importantes territórios que contém a grande biodiversidade dessa região.  Então a decisão de minimizar custos institucionais, evitando grandes gastos com a operação (e todo o desgaste físico e psíquico que isso implica para uma equipe de se locomover nas grandes cidades), foi tomada desde a sua fundação.  Trazendo ainda a vantagem de compor uma equipe a partir de seu conhecimento e dedicação, independente de em que parte do país ela vive.

Mas nada é assim tão simples e conceitual. Mesmo estando há tanto tempo coordenando uma equipe nesse sistema de trabalho, este momento de pandemia tem trazido novos desafios. O volume de trabalho mais que dobrou, e a vida se resumiu a somente trabalhar — todos os dias ficaram iguais. Uma sensação emocional de prisão se intensificou.

Expectativa x Realidade. Jani Aparecida e sua filha e companheira de home office, Anna Laura.

Nossa equipe, formada majoritariamente por mulheres, várias delas mães com crianças pequenas, teve um aumento de stress. Comecei a perceber que e-mails estavam sendo enviados às 5h da manhã ou às 11h da noite.  Sem escola, e sem ajuda em casa, o cansaço se tornou visível. Ao mesmo tempo, a situação que foi se agravando no país, a cada dia demandava mais dedicação da equipe. Foram 16 chamadas de projetos em 10 meses, em torno de 500 apoios, mais de 900 pagamentos, reuniões intermináveis online, e uma quantidade absurda de outras pequenas demandas que foram se acumulando, que vão desde atender às dúvidas dos grupos, entender a situação em constante mudança nos territórios, até a orientar e mobilizar mais e mais parceiros e apoiadores.  Após alguns meses nesse processo a luz vermelha acendeu: eu precisava cuidar da minha equipe! Tanto a saúde física como emocional estavam comprometidas.

Compramos cadeiras novas e confortáveis, cada colaborador pode escolher a mais adequada para o seu corpo. Combinamos um período do dia em que todos estaríamos conectados, deixando as mamães com mais liberdade para escolherem seus horários. Fizemos um recesso por escala da equipe e todos puderam tirar 5 dias de folga após o período mais crítico de trabalho.  Por fim, oferecemos aulas de Yoga e de pilates para toda a equipe, 2 vezes por semana.

Nosso grupo se fortaleceu, estamos mais unidos e comprometidos do que nunca. Apesar dos desafios, este está sendo o ano em que o Fundo Casa mais doou e ninguém da equipe atrasou um dia com suas entregas. Todo mundo se ajudou, dividimos tarefas e colaboramos uns com os outros.

Nossos 13 colaboradores, espalhados entre Cunha, São Paulo, Juquitiba, Santos, Brasília, Porto Alegre e Santiago (Chile) nunca estiveram tão próximos e unidos. Junto com a gente, consultores em Salvador, Rio de Janeiro e Colômbia fizeram com que 2020 fosse um ano marcante, mostrando que enfrentar uma pandemia juntos é bem mais fácil. Não sabemos quando isso tudo vai terminar, esperamos que seja logo! Mas ter tido a sensibilidade para cuidar da equipe enquanto desenvolvíamos estratégias para ampliar nossas doações me confortou o coração. Independente de como for o próximo ano, vamos seguir acolhendo os desafios e apoiando soluções, independente do que vier.

 

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