27.10.2022

Aliança entre Fundos promove encontro inédito de comunicação com quilombolas e indígenas de várias partes do país

Apoiados no âmbito da Aliança entre Fundos, quilombolas e indígenas tiveram troca de experiências, dicas de ferramentas e modos de comunicação para aplicarem em seus territórios

Na foto: Quilombo Os Rufinos na Paraíba. Crédito: Thiago Rodrigues/Divulgação 

 

A comunicação é uma ferramenta essencial para que as histórias ultrapassem fronteiras. No âmbito da Aliança entre Fundos – formada pelo Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental – isso não é diferente. As comunidades quilombolas e os povos indígenas apoiados pela Aliança participaram de uma iniciativa inédita que reuniu representantes desses grupos de Norte a Sul do Brasil. São grupos historicamente excluídos que se reuniram num encontro virtual para refletir sobre a comunicação e fortalecer suas narrativas. 

O encontro de comunicação com quilombolas e indígenas, organizado pela Aliança entre Fundos, reuniu mais de 70 pessoas de 78 organizações comunitárias apoiadas pelos Fundos. Os conteúdos foram conduzidos pelos coletivos de comunicação Mídia índia e pelo coletivo de comunicação da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ).

Fundado em 2017, o Mídia Índia surgiu durante o Acampamento Terra Livre, a maior mobilização anual de indígenas no Brasil. O propósito foi consolidar a iniciativa como um veículo da causa indígena. Já o coletivo de comunicação da CONAQ foi criado em 2020 durante a pandemia da COVID-19 e marcou a mobilização quilombola contra as fake news sobre a letalidade do vírus nestas comunidades, dentre outros assuntos.

No encontro da Aliança entre Fundos, a condução dos conteúdos feita pelos próprios quilombolas e indígenas consolidou o protagonismo dos dois grupos no campo da comunicação e favoreceu a consolidação de novos atores na produção e elaboração de narrativas em defesa dos povos indígenas e das comunidades quilombolas.

Para o Juliane Yamakawa, assessora de projetos do Fundo Brasil de Direitos Humanos e membro do Comitê Gestor da Aliança, “com a adesão de tantos grupos e coletivos de todo o país, o encontro de comunicação mostrou de forma concreta que há muito interesse dessas e desses ativistas tanto em aprimorar suas capacidades quando em articulação, em trabalhar conjuntamente e aprender coletivamente”, avaliou. Juliane é a responsável por acompanhar os projetos dos povos indígenas apoiados pelo Fundo Brasil no âmbito da Aliança entre Fundos. “Além de promover aprendizado, o encontro também impulsiona a formação de redes de apoio e amplia olhares e abordagens, e esse é um dos objetivos estratégicos da Aliança”, completou.

Fernanda Lopes, diretora de programa do Fundo Baobá e membro do Comitê Gestor da Aliança, enfatizou que o encontro é resultado de uma estratégia cuidadosamente elaborada pelos três Fundos. “Esta Aliança foi construída a partir das demandas das comunidades quilombolas e povos indígenas que já eram recebidos pelos Fundos. Já praticávamos o exercício de ouvir atentamente vozes do campo para orientar nossas ações. No contexto da pandemia, constatamos que poderíamos fazer melhor se estivéssemos juntos, os três Fundos. Nossa intenção é oferecer não só apoio financeiro, mas também fortalecer as potências quilombolas e indígenas. Por isso a colaboração entre os Fundos e esta ação conjunta em torno da comunicação.  Precisamos criar um ambiente favorável para a luta em defesa dos direitos e a comunicação é o caminho”, explicou Fernanda.

Potências locais

O encontro de comunicação consolidou a aposta no fortalecimento das potências locais. O coletivo de comunicação da CONAQ, por exemplo, aprofundou sobre as estratégias para fomentar as redes sociais e dar visibilidade às demandas dos territórios. Entre os destaques, estão as dicas dadas pelo coletivo sobre como garantir a segurança para os defensores dos direitos humanos quilombolas e indígenas no contexto das lutas por seus direitos. 

Já o coletivo Mídia Índia apresentou o passo a passo para a gravar um vídeo, desde a produção do roteiro e a escolha das imagens até as locações e dicas de edição de som. Coube também ao Mídia Índia orientar sobre as estratégias para garantir o engajamento nas redes sociais. 

Sobre a experiência com os grupos,  Erisvan Guajajara, do Mídia Índia, relatou que “ensinar como usar a comunicação como ferramenta de luta é acreditar que a gente pode falar das nossas narrativas para que o mundo possa conhecer a nossa realidade e entender o enfrentamos nas bases, que essa é a verdadeira história desse país, escondida em um Brasil profundo e ainda desconhecida pelas grandes mídias”.

Para Maryellen Crisóstomo, do coletivo de comunicação da CONAQ, o sucesso do evento pode ser explicado pelas demandas forjadas pelos próprios grupos. “Os territórios anseiam por divulgar suas ações e estão buscando meios para aprimorar as formas de comunicação, dado a participação expressiva dos territórios atendidos pelos Fundos”, finalizou.

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