20.08.2021

Arte Mehinako – Geração de renda e enfrentamento dos impactos da pandemia

Apoio do Fundo Casa por meio da Chamada de Apoio a Grupos de Base no Enfrentamento da  COVID-19 ajudou a aldeia Kaupüna a enfrentar os impactos da pandemia e estimulou a produção de arte tradicional – Na imagem acima: Yaritsu, artista Mehinako. Foto: Yaruru Mehinako.

A arte dos Mehinako, povo do Território Indígena do Xingu, é admirada e desejada por entusiastas do Brasil e do mundo. Os bancos de madeira em formato de animais e pássaros típicos da Amazônia são os principais destaques e já frequentaram exposições nacionais e internacionais, em países como Japão e Estados Unidos. Mas além dos bancos, os artistas também produzem cestarias de talo de buriti,remos, máscaras de madeiras, pá de beijus, miçangas, redes, cabaças, esteiras, entre outras artes que enchem os olhos de quem vê e carregam o espírito dos povos da floresta. Foi para estimular ainda mais a produção dessas artes que o Instituto de Arte Indígena Brasileira Xepí, da Aldeia Kaupüna, enviou um projeto para o Fundo Casa. O projeto apoiado aumentou a capacidade produtiva dos artistas indígenas e ajudou no enfrentamento dos impactos causados pela pandemia. Parte deste resultado pode ser conferido na exposição ContraPonto, que acontece em São Paulo até dia 26 de agosto.

Festa Kayapa na aldeia Kaupüna, no Território Indígena do Xingu. Foto: Kauta Mehinako

Geração de renda e manutenção da cultura

As tradições artística do povo Mehinako foram passadas de geração em geração por séculos, assim como outros aspectos que envolvem sua cultura. Os bancos Mehinako são muito marcantes, feitos em madeira, eles podem ter o formato de diversos animais e pássaros, como tamanduá, onça, tatu, paca, arara, tucano, gavião e muitos outros. As peças são feitas de madeira de árvores como a Piranheira, Moreira e o Jatobá. Um detalhe importante é que os Mehinako, na maioria das vezes, utilizam madeiras de árvores já caídas na floresta. Quando há necessidade de derrubada, ela é feita de maneira sustentável. No processo de confecção dos bancos não há desperdício e toda a madeira é aproveitada. Uma única árvore pode dar origem a mais de 30 bancos de diferentes tamanhos.

Entrega das ferramentas para a produção das artes Mehinako em madeira, na aldeia Kaupüna. Foto: Kauta Mehinako.

Um banco de madeira Mehinako esculpido inteiramente à mão pode demorar até 12 dias para ser confeccionado, mas com ferramentas elétricas modernas é possível diminuir consideravelmente o tempo de produção. Com o apoio cedido pelo Fundo Casa, os Mehinako compraram ferramentas como serras, lixadeiras e furadeiras, que permitiram aumentar muito a capacidade de produção e melhorar a qualidade de acabamento dos bancos. Agora, dependendo do tamanho, um banco pode ser feito em cerca de 3 a 5 dias, um tempo quatro vezes menor. Mais ferramentas também possibilitam que mais artistas possam trabalhar ao mesmo tempo em diferentes peças, pois antes os artistas precisavam entrar na fila para utilizar as ferramentas comunitárias. Os Mehinako relatam que as ferramentas estão ajudando a evoluir as técnicas artísticas e o legado deve ser longo, pois são equipamentos que devem durar anos.

Se os bancos de madeira são especialidade dos homens da aldeia, as mulheres Mehinako carregam a tradição e a arte da produção de miçangas, redes e cestarias tradicionais, com cores e formas belas e características, peças utilizadas especialmente em rituais. O recurso do projeto também foi utilizado para a compra dos insumos necessários para a produção destas artes e foram distribuídos igualmente entre todas as mulheres da aldeia.

Mayawari Mehinako, presidente do Instituto Xepí, fazendo o acabamento de uma peça com ferramenta adquirida pelo projeto. Foto: Aluari Mehinako.

Agora, com os lucros obtidos com as vendas das artes, os Mehinako esperam conseguir alcançar a segurança financeira para enfrentar possíveis dificuldades que afetem a comunidade. Segundo Mayawari Mehinako, professor e presidente do Instituto Xepí, os recursos obtidos serão muito importantes para gerar um fundo financeiro e uma reserva de emergência para a aldeia, que poderá ser utilizada, por exemplo, caso algum morador precise de um atendimento médico especializado, para compra de medicamentos, entre outras necessidades da comunidade. Outro grande objetivo da aldeia é a compra de uma nova antena de 60 metros de altura que será utilizada para conexão com à internet. Hoje a aldeia já possui acesso à internet, porém o serviço via satélite é muito caro e de má qualidade. Com a nova antena, a qualidade de conexão deve melhorar muito e ajudar os Mehinako nas vendas online das artes e na participação em eventos virtuais e no estudo à distância.

Enfrentando os impactos da COVID-19

O projeto apoiado pelo Fundo Casa e executado pelo Instituto Xepí teve como prioridade a geração de renda para a comunidade, mas também teve seu lado emergencial. Os recursos foram utilizados na compra de produtos básicos de higiene, máscaras e alimentos, como o polvilho, ingrediente do beijú, fundamental na alimentação tradicional dos Mehinako. O beijú é um produto da mandioca tradicionalmente produzido pela comunidade, mas com a pandemia, muitas pessoas da aldeia ficaram doentes, algumas com sintomas graves, e não puderam cuidar adequadamente de suas roças, isso afetou diretamente a produção. Felizmente, ninguém chegou a falecer na Aldeia Kaupüna, mas
aldeias próximas não tiveram a mesma sorte.

Artistas recebendo as miçangas e linhas para a confeção de colares, pulseiras, brincos, cestarias e tapeçarias. Foto: Aluari Mehinako.

“Em 2020 e no início de 2021, devido a pandemia, não conseguimos viajar para vender os produtos de arte Mehinako. Com esse apoio do Fundo Casa, o recurso facilitou tanto a produção quanto o resultado esperado pela comunidade e eu consegui vir à São Paulo para expor e vender as artes Mehinako – Mayawari Mehinako” 

Como adquirir as artes Mehinako

As artes Mehinako estão na exposição ContraPonto na Casa da Coleção BEĪ em São Paulo e podem ser conferidas até do dia 26 de agosto, próximo ao Parque do Ibirapuera. A Editora BEĪ é parceira de longa data dos Mehinako e possui uma coleção de mais de 800 bancos indígenas de diferentes origens. As artes também podem ser adquiridas diretamente pelo Instagram do Instituto Xepí (@instituto.xepi) ou pelo WhatsApp +55 66 98430-9240. O Instituto Xepí aceita encomendas, envia para qualquer estado do Brasil e também para o exterior.

Exposição ContraPonto na Editora BEI. Foto: Mayawari Mehinako.

 

Equipe de gestão do projeto: Mayawari Mehinako e Ana Rosa Proença. Equipe de apoio: Yatapi Mehinako, Yaruru Mehinako, Kauta Mehinako e Aluari Mehinako.

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