Brigadas comunitárias: a linha de frente contra incêndios florestais no Brasil
Apoio do Fundo Casa Socioambiental fortalece brigadas indígenas e voluntárias no combate aos incêndios florestais, integrando conhecimento tradicional e tecnologia para preservar ecossistemas e mitigar os impactos das mudanças climáticas.
O aumento dos incêndios florestais no Brasil, agravado pelas mudanças climáticas e práticas inadequadas de uso da terra, tem colocado as brigadas comunitárias na linha de frente das ações de combate e prevenção.
Compostas por voluntários e lideranças locais, essas brigadas utilizam uma combinação de conhecimento ancestral e técnicas modernas para enfrentar os incêndios que ameaçam ecossistemas inteiros e a vida de milhares de pessoas.
Elas desempenham um papel importante na detecção, prevenção e resposta imediata aos incêndios, muitas vezes sendo as primeiras a atuar em situações de emergência devido ao seu conhecimento local e proximidade com os territórios afetados.
De acordo com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), cerca de 200 brigadas atuam em todo o Brasil, compostas por membros das próprias comunidades. Essas brigadas têm desempenhado um papel fundamental na proteção de florestas, territórios indígenas e áreas vulneráveis.
A recente criação da Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo (PNMIF), por meio da Lei 14.944/2024, reforça essa atuação. A política tem como objetivo promover a articulação entre sociedade civil e governo para aprimorar a prevenção e resposta a incêndios, envolvendo diretamente as brigadas comunitárias.
Brigadas Indígenas de Roraima: sabedoria ancestral e tecnologia
Em Roraima, as brigadas indígenas têm sido uma linha de defesa fundamental contra os incêndios florestais, os quais ameaçam o Lavrado, um ecossistema único em meio a Amazônia, semelhante ao Cerrado, onde o fogo se propaga com muita facilidade.
Segundo Sinéia Wapichana, coordenadora do Comitê Indígena de Mudança Climática (CINC) e do Departamento de Gestão Territorial, Ambiental e Mudanças Climáticas do Conselho Indígena de Roraima (CIR), a combinação do conhecimento tradicional com tecnologias modernas tem permitido uma resposta eficaz ao combate e a prevenção dos incêndios florestais.
“Em 1998, tivemos uma grande queimada em Roraima, e a partir disso começamos a trabalhar e constituir brigadas indígenas para unir o conhecimento técnico ao tradicional”, explica Sinéia.
Desde então, o CIR tem capacitado brigadistas indígenas, tanto homens quanto mulheres, para atuar em situações de emergência e prevenção. Além do treinamento, as brigadas utilizam tecnologias como drones e sistemas de monitoramento da qualidade do ar para auxiliar no combate aos incêndios. “O uso de drones, por exemplo, tem sido essencial para identificar focos de calor e direcionar as brigadas em campo”, acrescentou Sinéia.
A implementação de tecnologias como o “Starlink” tem permitido uma comunicação eficiente entre as brigadas e as bases operacionais, facilitando a logística e o monitoramento remoto.
Um dos maiores desafios enfrentados pelas brigadas é o combate a incêndios que têm origem fora das terras indígenas. “Este ano, 70% dos incêndios vieram de fora dos nossos territórios”, diz Sinéia.
A importância das brigadas comunitárias se estende também à prevenção. Sinéia mencionou que o trabalho preventivo é feito com base em planos de vida elaborados pelas comunidades, que incluem práticas de ordenamento territorial e uso sustentável do fogo. “A prevenção é uma das nossas prioridades, e é aí que o conhecimento tradicional dos povos indígenas se mostra extremamente valioso”, disse.
Brigada Voluntária de Cavalcante (BRIVAC): defesa no Cerrado
Na região da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, a Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (BRIVAC) tem desempenhado um papel fundamental na proteção do bioma Cerrado contra os incêndios. Sob a presidência de Rafael Drumond, a brigada tem capacitado comunidades locais, como o Quilombo São Domingos, para responder rapidamente aos incêndios e desenvolver estratégias de manejo sustentável do fogo.
Clique para assistir o vídeo “Apoio contínuo a brigadas comunitárias e voluntárias”, uma iniciativa do Fundo Casa em parceria com a Rede Comuá para o Mês da Filantropia que Transforma.
“A BRIVAC tomou a iniciativa de fortalecer as brigadas comunitárias da região, capacitando-as para o combate inicial aos incêndios,” explica Rafael Drumond.
Além do combate direto aos incêndios, as brigadas comunitárias também desempenham um papel importante na educação ambiental e na restauração de áreas afetadas pelo fogo.
“As brigadas comunitárias poderão contribuir muito com a redução dos incêndios na região e, ao mesmo tempo, realizar ações de educação ambiental e a restauração de áreas degradadas.” Rafael Drumond
Um dos principais focos da BRIVAC tem sido a recuperação de nascentes que foram comprometidas pelos incêndios. “Identificamos nascentes comprometidas após a passagem do fogo, e estamos trabalhando na recuperação dessas áreas”, explica o presidente da BRIVAC.
Essa atuação integrada fortalece o território e protege tanto a biodiversidade quanto os modos de vida locais.
O Fundo Casa e o apoio às Brigadas
O trabalho das brigadas comunitárias e voluntárias é reconhecido por sua eficácia, mas também enfrenta desafios. A falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) adequados é uma das principais dificuldades. O apoio de organizações como o Fundo Casa Socioambiental tem sido fundamental para suprir essa necessidade.
Segundo Sinéia Wapichana, “os EPIs são essenciais para garantir a segurança dos brigadistas, e nós agradecemos o apoio que recebemos para equipar adequadamente nossas brigadas”.
O Fundo Casa tem sido uma peça chave no fortalecimento das brigadas comunitárias, oferecendo apoio financeiro e logístico para que essas iniciativas prosperem.
Beatriz Roseiro, gestora de programas, destaca que a parceria com as brigadas busca integrar o conhecimento das comunidades locais com soluções tecnológicas e estratégias de longo prazo. “Estamos comprometidos em garantir que essas brigadas tenham os recursos necessários para enfrentar os desafios dos incêndios florestais e proteger seus territórios.”
O apoio do Fundo Casa às brigadas de incêndio começou a ganhar forma devido à necessidade urgente de recursos para combater incêndios que já haviam se alastrado. Beatriz Roseiro explica que, inicialmente, o suporte estava restrito a suprimentos e logística, o que limitava a capacidade de realizar ações estruturantes e de longo prazo.
“Observamos que esses recursos tão necessários eram consumidos rapidamente por suprimentos e logística, permitindo a atuação daqueles que já estavam treinados e equipados para atuar no combate a incêndios, mas inviabilizando ações estruturantes e de planejamento,” afirma Beatriz Roseiro.
Para superar essas limitações, o Fundo Casa lançou, em 2021, a chamada de projetos intitulada “Apoio a Grupos de Base no Enfrentamento de Emergências Climáticas Provocadas a partir dos Incêndios Florestais”. Desde então, o Fundo Casa tem oferecido suporte estruturante às brigadas voluntárias e comunitárias, associações e comunidades de base, visando uma abordagem planejada e eficaz no combate e prevenção de incêndios.
O apoio do Fundo Casa é dividido em três linhas principais. A primeira é a estruturação e fortalecimento das brigadas voluntárias, que inclui o fortalecimento das capacidades, reestruturação e suporte logístico. Beatriz Roseiro ressalta que “as brigadas comunitárias são a primeira resposta aos incêndios florestais, pois os moradores locais conhecem melhor seus territórios”.
A segunda linha é o manejo integrado do fogo, que envolve atividades de prevenção, monitoramento e controle de incêndios, além de treinamentos e reflorestamento. A terceira linha é a mobilização e engajamento, que busca ampliar o envolvimento comunitário na prevenção de incêndios e criar canais para denúncias.
Até o momento, o Fundo Casa apoiou 145 projetos voltados ao combate de incêndios florestais, com um investimento de mais de R$6 milhões. As ações têm ajudado a prevenir incêndios e empoderando comunidades locais como protagonistas na proteção de seus territórios.
Fundo Casa Socioambiental lança chamadas para apoiar brigadas
O Fundo Casa lançou no início de setembro de 2024 uma chamada emergencial para apoiar até 30 projetos com R$20 mil cada. O objetivo foi dar um reforço imediato a brigadas que estão em combate ainda neste momento.
Agora, uma nova chamada se encontra aberta com o objetivo de promover apoios estruturantes a longo prazo, fortalecendo a atuação de brigadas em todo Brasil. Serão apoiados até 30 projetos com R$60 mil cada. Clique aqui e saiba mais.