Combate à fome com economia solidária e agroecologia

Matéria por Eduardo Guimarães (RedeMoinho) e Joilson Santana (Centro de Arte e Meio Ambiente – CAMA).

A fome voltou e voltou com muita força

O Projeto “Feira Agroecológica do MAB: Agroecologia e Economia Solidária unindo campo e cidade” foi aprovado pelo Fundo Casa Socioambiental, na chamada Casa Cidades – Apoio ao fortalecimento das organizações que trabalham pelo direito ao território, no ano de 2020. Assim que os recursos foram liberados a equipe de gestão iniciou as atividades com a aquisição dos equipamentos previstos, que serão utilizados nas atividades de comercialização, quando o Museu de Arte for reaberto.

A Feira Agroecológica do MAB não parou de funcionar na pandemia. No primeiro mês de atividades, o serviço de entregas funcionou muito bem: as famílias agricultoras conseguiam comercializar um pouco da produção, as cooperativas continuaram comercializando seus produtos e consumidoras e consumidores continuaram comprando alimentos agroecológicos com preço justo. Portanto, dentro dos limites da Feira Agroecológica do MAB, tudo funcionava normalmente. No entanto, fora desses limites, os problemas se multiplicavam, pois a fome estava voltando, e com muita força. E se economia é realmente solidária não havia como se fechar em uma bolha.

O alerta veio das Cooperativas de Catadores e Catadoras de Materiais Recicláveis. Os entraves causados pela pandemia estavam impedindo catadores e catadoras de realizar plenamente o trabalho de coleta de materiais recicláveis. As cooperativas conviviam de perto com contaminações de cooperados e cooperadas pelo coronavírus e com uma queda brutal na renda. A solução encontrada pelo coletivo formado pela RedeMoinho, Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) e Central das Cooperativas de Trabalho de Reciclagem da Bahia (CCRBA) foi transformar o serviço de entregas a domicílio em CESTA SOLIDÁRIA. Com a contribuição de consumidores e consumidoras e com muito esforço, durante três meses, para cada cesta comprada, a RedeMoinho doava uma cesta as cooperativas. Após esse período, as doações continuaram, mas com redução gradual.

Cooperado recebe cesta de produtos orgânicos oriundos da agricultura familiar.

Nos primeiros meses de 2021, a segunda onda da pandemia chegou como intrusa e ficou e a fome que já havia voltado, ganhou força. Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, a Insegurança Alimentar e a fome no Brasil retornaram aos patamares próximos aos de 2004. De acordo com os dados levantados pelo inquérito, “Eram 10,3 milhões de pessoas em Insegurança Alimentar grave em 2018, passando para 19,1 milhões, em 2020. Portanto, neste período, foram cerca de nove milhões de brasileiros(as) a mais que passaram a ter, no seu cotidiano, a experiência da fome. E, se a fome voltou no meio urbano, voltou com força também no meio rural, com a “redução dos preços de comercialização da produção”. A equipe gestora da Feira Agroecológica do MAB, o Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) e a Central das Cooperativas de Trabalho de Reciclagem da Bahia (CCRBA) avaliaram que a doação de cestas agroecológicas tinha sido uma solução boa, obviamente, deveria continuar e ganhar força.

Para fazer valer os princípios da economia solidária e da agroecologia, a CESTA SOLIDÁRIA da Feira Agroecológica do MAB, projeto apoiado pelo Fundo Casa Socioambiental, ampliou o seu raio de ação, com o apoio da Coordenadoria Ecumênica de Serviços (CESE), instituição que está financiando a aquisição de alimentos para doação às cooperativas de catadores e catadoras de matérias recicláveis. A ideia é garantir um aumento de renda para famílias agricultoras, penalizadas com a redução dos preços de comercialização da produção pagos pelos grandes atacadistas; doar alimentos de verdade à catadores e catadoras de materiais recicláveis, seguimento ligado à economia solidaria com alto índice de vulnerabilidade; garantir uma aumento no volume de vendas das cooperativas associadas à RedeMoinho e continuar comercializando alimento de verdade a preço justo aos consumidores e consumidoras da RedeMoinho.

Foto: Cooperados da COOPMARC recebendo cestas de orgânicos. A ação abarca as cooperativas da região metropolitana de Salvador.

A Cesta Solidária está estruturada em rede:

Os hortifrutigranjeiros são produzidos por agricultores e agricultoras associados à Cooperativa Agropecuária e Industrial de Coqueiro de Monte Gordo (COOPERMONTE).

Os produtos processados são produzidos por cooperativas e pequenos empreendimentos da agricultura familiar, destacam-se:

Cooperativa Mista dos Pequenos Cafeicultores de Barra do Choça e Região (COOPERBAC);

Cooperativa de Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (COOPERCUC);

Cooperativa Agropecuária Dos Agricultores E Apicultores Do Médio São Francisco Ltda (COOPAMESF);

Cooperativa de Produção da Região do Piemonte da Diamantina (COOPES);

SÍTIO FUTURO, localizado na Chapada Diamantina;

COPIRECÊ – Cooperativa agropecuária Mista regional de Irecê;

AGROSSIVICULTURA SÃO COSME E DAMIÃO, localizada no município de Ubaitaba, Sul da Bahia.

Cabe ao Centro de Arte e Meio Ambiente (CAMA) e a Central das Cooperativas de Trabalho de Reciclagem da Bahia (CCRBA), a seleção das cooperativas e das famílias que serão beneficiadas com as cestas.

A equipe de gestão da Feira Agroecológica do MAB organiza a logística das doações.

Já foram doadas cerca de 5 toneladas de alimentos e a expectativa é dobrar esse volume até o final do ano.