Fundo Casa fecha o ano de 2021 com mais de R$ 17 milhões doados
Última chamada do ano teve foco especial em populações tradicionais quilombolas
Na foto em destaque: Produção coletiva do Núcleo de Azeite de Dendê feito de forma artesanal no quilombo Kaonge, Território de Identidade Recôncavo – Bahia. Foto: Ananias Viana
Na última semana o Fundo Casa anunciou os projetos selecionados de mais uma chamada em 2021, a Chamada de Projetos para Apoio às Comunidades Quilombolas no Enfrentamento dos Impactos Causados Pela Covid-19. Foram 68 projetos recebidos de comunidades quilombolas do Norte e Nordeste do Brasil, dos quais 33 foram selecionados, num total de R$ 984.377,41 doados. Esta chamada faz parte de uma inédita Aliança entre Fundos, que uniu o Fundo Baobá para Equidade Racial, Fundo Brasil de Direitos Humanos e Fundo Casa Socioambiental. Com os últimos apoios de 2021, já podemos comemorar os mais de R$ 17 milhões (mais de U$3 milhões) em doações diretas para 458 organizações e comunidades em todas as regiões do Brasil. Fica ainda mais marcante neste ano a capacidade do Fundo Casa de apoiar populações tradicionais e grupos de base comunitária.
Segundo a Diretora Executiva do Fundo Casa, Cristina Orpheo: “Em 2021 o Fundo Casa consolidou ainda mais seus apoios para as comunidades tradicionais indígenas, quilombolas, pescadores artesanais e agricultores familiares, ou seja, brasileiros que não só foram os mais impactados pela Covid, mas também os que mais sofrem violações de direitos. Também foi um ano de muito aprendizado para nossa equipe e para os grupos. Suas batalhas diárias para sobreviver já eram desafiadoras antes da pandemia. E pioraram muito! Mas no meio do desafio, as soluções tem sido ainda mais criativas, e suas atitudes sempre resilientes, inovadoras e solidárias. Fechar o ano com esse edital exclusivo para as comunidades quilombolas, dentro da iniciativa Aliança entre Fundos é, além de uma alegria, uma forma de reconhecer e fortalecer o protagonismo dessa população tão esquecida pela nossa sociedade. É a primeira vez que dedicamos um edital exclusivamente para apoiar as comunidades quilombolas, e agradecemos a Inter-American Foundation – IAF e a GlobalGiving por todo apoio para que isso fosse possível.”
Segundo Ananias Viana, quilombola e ativista do Vale do Iguape: “A pandemia deixou ainda mais fragilizadas as condições de vida dos moradores das comunidades quilombolas, em especial daquelas que desenvolviam iniciativas de produção e oferta de serviços, como no caso dos moradores das comunidades pertencentes à Bacia e Vale do Iguape. Essas comunidades, por intermédio do Centro de Educação e Cultura Vale do Iguape – CECVI, vêm fomentando coletivamente núcleos produtivos, a exemplo do cultivo de ostras, do turismo étnico comunitário, do artesanato, da produção de azeite de dendê artesanal, de óleo de coco, de batatas chips e do mel de abelha, como estruturas potenciais de geração de renda. Essas iniciativas estão articuladas por meio da formação da Rede Cidadania Quilombola, que conta ainda com o Banco Solidário Quilombola do Iguape, o qual tem a sua própria moeda social ( SURURU).” Porém, todas estas atividades que geram emprego e renda tiveram de ser paralisadas por conta das medidas sanitárias tomadas para amenizar os efeitos da pandemia.
O objetivo da chamada especial de projetos para quilombolas do Fundo Casa foi o de apoiar a recuperação econômica destas comunidades por meio da economia solidária e negócios coletivos que contribuíssem com sua sustentabilidade econômica e, ao mesmo tempo, fomentassem estratégias de resiliência comunitária e o uso de novas tecnologias. Outro tema de apoio foi o fortalecimento de ações que promovessem a soberania e segurança alimentar, como por exemplo, o resgate de tradições culturais na produção de alimentos, e também de projetos que trabalhassem a agroecologia e a solidariedade.
Para Ananias Viana, “um apoio como este, da chamada promovida pelo Fundo Casa, é de fundamental importância, e representa um marco para a retomada de forma mais efetiva das atividades promovidas por essas iniciativas pertencentes a Rede Cidadania Quilombola, que voltam a ter a expectativa de continuar não só contribuindo para o desenvolvimento desses territórios, mas também gerando renda e amenizando os efeitos provocados por esse período de pandemia e no combate à fome e à pobreza.”
Segundo a conselheira do Fundo Casa, Selma Dealdina, quilombola e Secretária Executiva da CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), os povos quilombolas do Brasil vivem um momento de abandono por parte do Estado e a situação foi muito agravada pela pandemia. Segundo ela, “quando vem este apoio direcionado diretamente para as comunidades quilombolas, para que elas consigam se restabelecer e se reconstruírem após a pandemia da Covid, isso é de muita importância e relevância para a luta quilombola. Isso mostra o cuidado e comprometimento com a pauta anti-racista que o Fundo Casa Socioambiental tem para com as comunidades quilombolas. Eu me sinto muito orgulhosa de fazer parte deste conselho incrível que não mediu esforços, lutou muito e ainda luta para angariar apoiadores para a pauta quilombola.”
Selma, que acompanhou de perto os grupos, conta que “está sendo muito gratificante ver as reações das pessoas que tiveram seus projetos aprovados. É impressionante como as mulheres se auto-organizaram para escrever os projetos para esta chamada, enfrentando várias dificuldades, como a falta de acesso à internet, mas que conseguiram dar conta.”
O resultado da Chamada foi divulgado na última sexta-feira e o Fundo Casa já está entrando em contato com os representantes dos projetos selecionados para a contratação. A previsão é que já nos primeiros meses de 2022 o recurso seja repassado para as comunidades.