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Fundo Casa Socioambiental na Linha de Frente da Adaptação Climática
Fortalecendo comunidades e soluções locais para um futuro mais resiliente
A adaptação climática precisa ser construída por quem sente, no cotidiano, os impactos da crise ambiental. No Fundo Casa Socioambiental, acreditamos que as soluções estão nas próprias comunidades e que fortalecer esses saberes é essencial para garantir a justiça climática.
Com um modelo de financiamento descentralizado e focado no protagonismo local, apoiamos iniciativas que ajudam a restaurar territórios, a promover segurança hídrica e a resgatar o equilíbrio ambiental. De Norte a Sul do Brasil, os projetos apoiados demonstram que a resiliência climática nasce da conexão entre as pessoas e seus territórios.
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O Viveiro Mulheres da Terra, projeto apoiado pelo Fundo Casa, está produzindo mudas de espécies nativas para recuperação de áreas degradadas em Viamão (RS). Foto: Rafa Dotti
No Rio Grande do Sul, por exemplo, onde as enchentes de 2023 devastaram comunidades inteiras, integrantes do grupo Mulheres da Terra, localizado no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão, encontraram na agroecologia e na recuperação de áreas degradadas um caminho para reconstruir suas vidas e o meio ambiente. O projeto “Viveiro Mulheres da Terra: reconstruir a conexão com a Mãe Terra”, apoiado pelo Fundo Casa Socioambiental, é uma amostra de como a adaptação climática precisa ser enraizada nas realidades locais.
O projeto tem como foco a implantação de um viveiro comunitário para produzir mudas de espécies nativas, muitas em risco de extinção. Essas mudas serão usadas no reflorestamento de áreas degradadas e na revitalização de quintais agroflorestais, fortalecendo a resiliência climática e a recuperação dos ecossistemas. A iniciativa também fortalece as mulheres do assentamento, já protagonistas na produção agroecológica e na luta pelo direito à terra.
“Por nosso viveiro ser muito recente, nosso trabalho está trazendo a conscientização das mudanças climáticas e apresentando uma possibilidade de recuperar nossas matas através do plantio de árvores”, explica Isabel Cristina Ribeiro Dalenogare, coordenadora do grupo e assentada da reforma agrária.
A proposta vai além da recuperação ambiental imediata. O grupo entende que a adaptação climática exige ações de longo prazo, como a educação ambiental e o engajamento da comunidade.
“Este ano de 2025 já temos o projeto de doar cerca de 1.000 mudas de espécies nativas para a comunidade. Com esse plantio, estimulamos o cuidado com o nosso território, fortalecendo-o para enfrentar as mudanças climáticas”
Isabel Cristina Ribeiro Dalenogare, coordenadora do grupo Mulheres da Terra (RS)
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Equipe do projeto Mulheres da Terras, no assentamento Filhos de Sepé, em Viamão (RS). Foto: Rafa Dotti
Uma das estratégias centrais do projeto é envolver crianças e jovens no processo de restauração ambiental, garantindo a continuidade das práticas sustentáveis. “A ação de ir às escolas para levar às crianças a importância de cuidar da natureza e estimulá-las a plantar e acompanhar o crescimento das mudas é fundamental. Com certeza teremos mais pessoas conscientes do problema das mudanças climáticas e atuando para o enfrentamento com a ação de recuperar a natureza”, ressalta a coordenadora.
A experiência do grupo mostra que a reconstrução do Rio Grande do Sul precisa ir além da infraestrutura e considerar soluções baseadas na natureza. O fortalecimento das comunidades e o resgate da relação com a terra são peças-chave para garantir que eventos extremos, como as enchentes, tenham impactos menos devastadores no futuro.
Adaptação Climática: Como o Fundo Casa Socioambiental se torna referência na construção de soluções locais
Em um cenário de intensificação dos impactos climáticos, o Fundo Casa Socioambiental se posiciona como referência no apoio a soluções de adaptação local. Priorizamos as comunidades e populações na linha de frente, como povos indígenas, quilombolas, mulheres, jovens e organizações locais, que têm um conhecimento profundo dos desafios de seus territórios.
Apoiamos iniciativas voltadas ao reflorestamento, à agroecologia e à preservação da biodiversidade, acreditando que as melhores respostas para a crise climática vêm diretamente das comunidades. Por isso, para o Fundo Casa, é essencial reconhecer e fortalecer o saber local.
O Policy Brief “Filantropia Comunitária e Soluções de Adaptação Lideradas Localmente: Lições Aprendidas do Sul Global”, publicado pelo Fundo Casa, analisa com profundidade os desafios e as oportunidades no financiamento para a adaptação climática.
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Acesse a publicação em: www.casa.org.br/publicacoes
O estudo destaca a disparidade entre as necessidades das comunidades vulneráveis e os recursos disponíveis para financiar ações de adaptação climática. Além disso, critica a centralização dos fundos e a burocracia que excluem as comunidades locais dos processos decisórios, tornando o acesso ao financiamento mais difícil e ineficiente.
Outro ponto importante abordado no estudo é que muitos recursos climáticos são oferecidos como empréstimos, o que agrava a situação financeira de países em desenvolvimento. Isso torna as soluções climáticas mais difíceis de implementar, pois os custos aumentam, onerando ainda mais as populações que mais necessitam de apoio.
Além disso, o estudo destaca a necessidade de fortalecer parcerias com instituições locais, reconhecendo a importância da colaboração para criar soluções mais justas e eficazes para a adaptação climática. Essas parcerias são essenciais para que as comunidades possam acessar os recursos necessários para promover ações sustentáveis em seus territórios.
Um exemplo desse modelo de adaptação local é o trabalho das brigadas de incêndio florestal, que combatem as queimadas e atuam na prevenção, protegendo áreas fundamentais para a biodiversidade e o equilíbrio climático. A participação das comunidades nessas ações fortalece a autogestão local, elemento chave para soluções duradouras e efetivas.
Brigada feminina Apinajé: uma referência em adaptação climática na Amazônia
Na Terra Indígena Apinajé, no norte do Tocantins, uma brigada composta exclusivamente por mulheres tem se destacado no combate aos incêndios florestais, enfrentando diretamente os impactos da crise climática.
A iniciativa, chamada Pēp Apinajé: Guardiãs Indígenas, é pioneira na região de transição entre o Cerrado e a Amazônia e conta com o apoio do Fundo Casa e de parceiros internacionais. Este projeto se tornou um exemplo de adaptação climática e fortalecimento comunitário, unindo a força das mulheres indígenas na preservação do meio ambiente e na luta contra as mudanças climáticas.
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Mulheres Apinajé, da primeira brigada voluntária indígena feminina da Amazônia, participam da primeira atividade de queima prescita da temporada de fogo do ano de 2023 na Terra Indígena Apinajé. Foto: Bruno Kelly
As 29 mulheres da brigada enfrentam um território particularmente vulnerável às queimadas, que a cada ano ameaçam a vegetação e outrosutros recursos naturais essenciais para as comunidades locais. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) mostram que, após um período de queda, os focos de calor na Terra Indígena Apinajé voltaram a crescer nos últimos anos, intensificando os desafios para as brigadistas.
Para lidar com essa situação, as mulheres receberam treinamento certificado pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama), dentro do programa Prevfogo. Elas atuam ao lado da brigada contratada, que já realiza o trabalho na região desde 2014. Além do combate direto ao fogo, a brigada realiza a queima prescrita, um método de manejo preventivo que impede a propagação descontrolada dos incêndios durante os meses mais secos.
Maria Aparecida Apinajé, conhecida como Cida, foi uma das idealizadoras do projeto e destaca a importância da participação feminina na proteção ambiental: “Nosso projeto é preservar, manter nossas tradições, levar educação ambiental, conscientizando contra as queimadas e a destruição do nosso território”, afirma.
Os apoios e financiadores que compartilham princípios socioambientais têm sido fundamentais para o fortalecimento das brigadas comunitárias, reconhecendo a autonomia das comunidades na proteção de seus biomas.
Nos últimos anos, o Fundo Casa realizou 6 chamadas que apoiaram 227 projetos de prevenção e combate a incêndios florestais, doando um total de R$9,8 milhões para estas iniciativas. Os apoios incluem capacitação, aquisição de equipamentos e a implementação de estratégias de prevenção de incêndios, ampliando a resiliência climática dos povos da floresta.
A brigada feminina Apinajé tem inspirado outras comunidades a fortalecerem suas próprias iniciativas de prevenção e combate a incêndios, mostrando que a mobilização local é essencial.
“Estou lutando para não perdermos nossas plantas, nossos remédios, não deixar tudo se acabar”, diz Marlucia Apinajé, liderança do povo Apinajé.
Desafios e Soluções no financiamento climático para comunidades vulneráveis
O financiamento global para adaptação climática ainda está muito aquém das necessidades. Em números, estima-se que o valor necessário é de 10 a 18 vezes maior do que o disponível. E, infelizmente, muitos desses recursos não são distribuídos de forma justa, com pouca prioridade para as populações mais vulneráveis.
No Brasil e em outros países do Sul Global, o processo para acessar esses recursos é marcado por entraves, desde burocracia excessiva até a centralização das decisões. Tudo isso torna mais difícil que as comunidades locais recebam o apoio necessário de maneira rápida e eficaz.
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Curso de formação de Brigada de Mulheres Indigenas Prev Fogo IBAMA na Aldeia Sao Jose, Terra Indigena Anpinajé., Tocantins. Novembro 2022. Foto: Bruno Kelly.
A maior parte dos recursos globais para adaptação climática continua concentrada no Norte Global, enquanto apenas uma pequena parcela chega ao Sul Global. No caso do financiamento para direitos humanos, 99% são controlados por fundações do Norte e apenas 12% chegam aos grupos do Sul Global.
Para Cristina Orpheo, diretora executiva do Fundo Casa, essa realidade precisa mudar. “O atual modelo de financiamento climático global é burocrático e centralizado, o que impede que os recursos cheguem a quem mais precisa. O Fundo Casa e outros fundos comunitários do Sul Global provam que descentralizar e simplificar o acesso ao financiamento é fundamental para fortalecer a resiliência das populações vulneráveis”, afirma.
“Os países que menos contribuíram para a crise climática são os que mais sofrem e, ironicamente, ainda precisam arcar com os custos da adaptação.” – Cristina Orpheo
O Fundo Casa Socioambiental tem trabalhado desde 2005, em todo o Brasil, justamente em colaboração com essas comunidades mais vulneráveis. Apenas nos últimos dois anos, apoiou 968 projetos e destinou mais de R$83 milhões a iniciativas locais, reforçando a ideia de que as soluções de adaptação climática vêm de quem já vive o problema. Essa atuação tem sido transformadora, não apenas para as comunidades, mas para o próprio ecossistema de adaptação climática.
Uma das áreas mais desafiadoras tem sido o apoio às brigadas de combate a incêndios florestais no Brasil. O aumento do número de queimadas tem exigido ações rápidas e eficientes. Entre 2019 e 2021, o Fundo direcionou mais de R$40 milhões para mais de mil projetos, garantindo que as comunidades estivessem preparadas para enfrentar os incêndios e fortalecer seus direitos socioambientais.
Com a aproximação da COP30, cresce a expectativa de que a nova meta global de financiamento climático leve em conta as necessidades urgentes dos países em desenvolvimento e das populações mais vulneráveis. Nesse cenário, os fundos comunitários do Sul Global desempenham um papel indispensável na viabilização de soluções eficazes e acessíveis.
Cristina Orpheo reforça a necessidade de que os financiadores garantam o acesso direto dos povos indígenas e comunidades tradicionais aos recursos. Para ela, a adaptação climática deve ser centrada nos direitos humanos, com uma abordagem interseccional. “Os fundos do Sul Global têm um papel importantíssimo, pois são mecanismos financeiros que promovem o apoio direto às comunidades locais. Esses fundos precisam de mais recursos para ampliar as soluções que vêm das próprias comunidades, ganhando escalabilidade no número de apoios realizados anualmente”, afirma.
A descentralização do financiamento e o fortalecimento das iniciativas locais são caminhos incontornáveis para enfrentar a crise climática com justiça e efetividade. Proteger territórios e modos de vida significa proteger o futuro, e é nesse compromisso que o Fundo Casa Socioambiental segue atuando, ao lado de quem constrói a resiliência climática todos os dias.