10.09.2024

Mês da Filantropia que Transforma 2024 destaca a relação entre mudança climática e filantropia comunitária e de justiça ambiental

Pelo segundo ano consecutivo, a Rede Comuá promove um mês inteiro dedicado a travar debates e refletir sobre as agendas da filantropia comunitária e de justiça socioambiental. O Mês da Filantropia que Transforma acontece durante o mês de setembro, reunindo organizações membro da Rede Comuá, parceiros, financiadores e organizações da sociedade civil.

Em 2023, o foco da iniciativa teve por objetivo dar visibilidade à diversidade de práticas e experiências relacionadas a essas agendas. Em 2024, o Mês destacará a atuação das organizações da filantropia comunitária e de justiça socioambiental no financiamento, desenvolvimento e/ou cocriação de soluções climáticas locais. Serão divulgados conhecimento, conteúdo e atividades que demonstram as práticas e histórias de transformação realizada por comunidades e grupos em seus territórios a partir dessas soluções locais.

As mudanças climáticas em curso no planeta afetam a todos os territórios, grupos e comunidades. Mas não da mesma forma. Minorias políticas como comunidades indígenas, negras, quilombolas, LGBTQIAPN+, mulheres, agricultores e agricultoras familiares e populações de territórios periféricos urbanos, atravessados pelas desigualdades sociais e econômicas, são atingidas de modo mais extremo pelos efeitos da crise climática.

Esses grupos não têm lugar garantido em fóruns de tomadas de decisão relativas à definição de agendas de financiamento climático e de prioridades para as políticas públicas. Apesar de serem os que menos contribuem para o agravamento do quadro e, em muitos casos, os que mais atuam na conservação e preservação do meio ambiente, não recebem o apoio necessário para mitigar os efeitos das mudanças climáticas ou para se adaptar aos desafios socioambientais nos territórios. 

Menos de 1% do financiamento chega de fato a esses grupos para garantir direitos de posse e administrar florestas em países tropicais, segundo relatório da Rainforest Foundation Norway. Dos fundos alocados nos últimos 10 anos para apoiar esses direitos, apenas 17% incluíram ao menos uma organização local, representando 0,13% de todo o financiamento climático .

No Brasil, segundo dados da última edição do Censo GIFE, as organizações do investimento social privado (ISP) têm perfil majoritariamente executor de projetos e menos doador para outras organizações da sociedade civil. De acordo com o Censo, o montante de recursos financeiros para áreas de preservação ambiental no período 2022-2023 era de 13% do investimento realizado. Percentual menor era destinado para comunidades remanescentes de quilombos (10%), terras indígenas (7%) e assentamentos (3%).

A filantropia comunitária e de justiça socioambiental desempenha um papel fundamental ao fornecer apoio financeiro para fortalecer aqueles que são mais afetados e estão na linha de frente no enfrentamento às mudanças climáticas, enfatizando o papel transformador de movimentos, grupos e organizações de base presentes em todos os biomas brasileiros, contribuindo de modo crucial para a regulação climática do planeta.

Pensar a mudança do clima a partir de uma abordagem baseada em direitos humanos e  interseccional mostra-se fundamental, buscando que as estratégias de mitigação, adaptação e financiamento climático estejam focadas na redução da pobreza e no fortalecimento dos direitos, de modo que a transição para uma economia de baixo carbono seja de fato inclusiva e sustentável.

Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais

Em junho deste ano, durante o F20 Climate Solutions Forum, foi lançada a Iniciativa Comuá pelo Clima, uma ação de incidência que busca fortalecer o posicionamento político, a atuação coletiva e em rede para a construção de estratégias, narrativas e a produção de conhecimento no campo da filantropia climática, impulsionando e dando visibilidade a essas agendas tanto na esfera pública não estatal, como nos ecossistemas filantrópicos nacional e internacional.

A iniciativa é formada por organizações independentes doadoras que integram a Rede Comuá, que atuam há décadas com grantmaking para justiça socioambiental e têm uma trajetória consolidada e grande expertise em apoiar diretamente as comunidades tradicionais locais, na gestão de projetos e doação de recursos, monitoramento e avaliação.

Juntas, elas já financiaram, desenvolveram e/ou cocriaram mais de cem soluções climáticas locais (criadas por e para as comunidades, considerando as especificidades e vulnerabilidade dos grupos envolvidos). Atuam em diferentes territórios do país, em todos os biomas, valorizando saberes locais e ancestrais, soluções e tecnologias, e ao mesmo tempo fortalecendo ações de mitigação e adaptação.

Isso demonstra a atuação altamente capilarizada e eficaz da Rede e seu papel fundamental na agenda da filantropia comunitária climática, evidenciando soluções locais de financiamento, pensadas e desenvolvidas a partir dos atores que estão nos territórios, e buscando influenciar o campo a repensar suas práticas de doação em prol da transformação social e do enfrentamento efetivo aos impactos das mudanças climática.

Como parte da programação do Mês da Filantropia que Transforma 2024, será realizado o lançamento da “Iniciativa Comuá pelo Clima: financiamento de soluções climáticas locais”, que traça o perfil da atuação dos membros da Rede nessa agenda, de modo interseccional, e destaca ações e iniciativas desenvolvidas e financiadas na área de filantropia e clima.

O levantamento tem grande potencial para se tornar uma referência para o campo da filantropia, contribuindo para incidir na construção de agendas e desenvolvimento de estratégias de financiamento para organizações e grupos da sociedade civil que atuam na linha de frente.  

Acesse o site da campanha: Mês da Filantropia que Trasforma



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