Projeto Akoben garante suporte para mulheres negras da Paraíba durante a Pandemia
Por Mabel Dias[1] e Terlúcia Silva[2].
Cerca de 70 mulheres das comunidades de Marcos Moura, em Santa Rita, e do quilombo Caiana dos Crioulos, em Alagoa Grande, foram beneficiadas diretamente e outras centenas de pessoas, indiretamente, com atividades do Projeto Akoben[3]: Mulheres Negras na Paraíba enfrentando o coronavírus, desenvolvidas pela Bamidelê – Organização de Mulheres Negras na Paraíba, com apoio do Fundo Casa Socioambiental.
O projeto teve início no mês de julho, onde se comemora a 22ª edição do “25 de Julho na Paraíba” – Dia da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha e a 8ª edição do Julho das Pretas no Nordeste. As ações foram realizadas durante três meses e contaram com a parceria da Organização de Mulheres Negras da comunidade quilombola em Caiana dos Crioulos (OMNCC) e do grupo de Mulheres Negras de Marcos Moura.
O projeto Akoben teve como objetivo responder as necessidades básicas diante da Pandemia da COVID 19 com o repasse de informações sobre contágio e medidas de prevenção relacionadas ao coronavírus, distribuição de máscaras e panfletos educativos com a importância e a forma adequada de usá-las e higienizá-las, além de garantir direitos básicos e emergenciais (cestas básicas e kits de higiene). As máscaras foram confeccionadas por costureiras dos territórios alcançados pelo projeto, que atuam na comunidade e que ficaram sem trabalho neste período de pandemia.
Além de ações presenciais, sendo resguardadas as devidas orientações sanitárias, as ações do Akoben também foram realizadas nas redes sociais da Bamidelê e dos grupos envolvidos no projeto, com conteúdos que também foram veiculados em rádios comunitárias de Santa Rita e Alagoa Grande. É importante destacar que e a produção de vídeos, spots e cards, contaram com a participação das mulheres dessas comunidades beneficiadas, com suas vozes e mensagens!
“O projeto Akoben foi de suma importância para nós, mulheres negras quilombolas que integramos a Organização de Mulheres Negras de Caiana, no município de Alagoa Grande. Nossa população é uma das mais afetadas nesse momento de pandemia, principalmente na vida de nós mulheres que estamos sempre na luta, nos corres da vida para mantermos nosso sustento e da nossa família. Ficamos muito felizes, mais uma vez, nessa nova parceria com a Bamidelê, através do projeto Akoben”, afirmou Luciene Tavares, uma das representantes da Organização de Mulheres Negras de Caiana dos Crioulos. Ela também ressaltou a importância da divulgação das informações sobre a Covid19 promovida pelo projeto, a entrega das cestas básicas e dos kits de higiene para as mulheres de Caiana e familiares, bem como da incorporação da mão de obra das moradoras da comunidade para confecção das máscaras, que foram distribuídas na comunidade.
Para Verônica Lopes, liderança da comunidade de Marcos Moura, no município de Santa Rita, o projeto Akoben trouxe uma maior integração entre as mulheres do grupo de mulheres negras da região, uma iniciativa de partilha muito importante para o cuidado entre elas. “Realizamos conversas com as moradoras da comunidade, mantendo o distanciamento e usando máscaras. Distribuímos máscaras e material educativo também na igreja, visitamos algumas casas da comunidade para mostrar a importância dos cuidados, de como se prevenir do coronavírus, como manter a higiene, a importância de lavar as mãos e o cuidado com as idosas e os idosos também”, informou Verônica.
Em muitas casas, segundo Verônica, havia 8 ou mais pessoas morando junto, e esse cuidado com as mulheres foram multiplicados para com todos os familiares. Os spots, produzidos por elas e pelas mulheres de Caiana dos Crioulos, também tiveram um papel importante na difusão da prevenção ao coronavírus, pois foram reproduzidos em rádios comunitárias e circulado pelo WhatsApp para grande quantidade pessoas dos referidos territórios, obtendo assim uma boa repercussão junto aos moradores e moradoras.
Uma das principais dificuldades para o combate ao coronavírus nessas comunidades é a falta de estrutura, como água nas casas, e de recursos para comprar álcool em gel e produtos de higiene. As mulheres, de maneira colaborativa, usaram a criatividade e com as informações repassadas pelo projeto Akoben conseguiram ter acesso ao álcool e armazenar água em baldes e depósitos, podendo desta forma, manter a higiene das mãos, uma medida essencial para não ser contaminada pelo vírus da COVID 19.
O projeto Akoben trouxe esperança para as lideranças comunitárias e garantiu um suporte mínimo, mas fundamental, em um período crítico e difícil para toda a sociedade, sobretudo para as mulheres negras que atuam em ambos os territórios.
[1] Jornalista, Assessora de Comunicação no Projeto Akoben.
[2] Coordenadora de Projetos da Bamidelê – OMN/PB
[3] Akoben, entre outros significados, simboliza a vigilância, cautela, prontidão, luta e voluntarismo. A escolha desse nome se dá porque o projeto tem essa proposta de sensibilizar e garantir a prevenção ao coronavírus. Sobre os símbolos Adinkra, “desde o início do século XIX, os símbolos Adinkra são estampados nos tecidos fabricados pelo povo Akan, hoje República do Gana e República da Costa do Marfim. Além de produzir um efeito visual marcante, tais símbolos também possuem função de linguagem, substituindo a comunicação verbal”. Toda referência ao continente africano que fazemos, significa a reverência ao nosso vínculo ancestral com a “mama África”.