04.12.2024

Território e Tradição: mulheres indígenas do Maranhão contam suas histórias por meio do audiovisual

Apoiadas pelo Fundo Casa Socioambiental, o protagonismo das mulheres indígenas é fortalecido através de documentários que destacam saberes tradicionais e a luta pela sustentabilidade.

Nos territórios indígenas do Maranhão, câmeras registram histórias de resistência, saberes medicinais e conhecimento ancestral. Mulheres indígenas, protagonistas de suas próprias narrativas, utilizam o audiovisual como ferramenta para compartilhar com o mundo as ameaças das mudanças climáticas às suas terras e tradições. 

Com o apoio do Fundo Casa Socioambiental, projetos liderados por essas mulheres têm fortalecido a cultura local, gerando impacto significativo. Essas iniciativas resultaram na produção de documentários que destacam a resiliência e o protagonismo das mulheres na defesa de seus territórios.

Um dos projetos apoiados é o “Projeto Mulheres Indígenas na Salvaguarda do Artesanato Guajajara na TI Araribóia”, desenvolvido no âmbito da chamada Amazônia Resiliente. O outro projeto, “Projeto AMIMA ampliando e fortalecendo o debate sobre REDD+ e mudanças climáticas nos territórios indígenas do Maranhão”, foi apoiado pela chamada “Fortalecimento Comunitário e Defesa de Direitos Territoriais no Matopiba”, em parceria com a Fundação OAK. Ambos foram realizados por meio de uma parceria entre o Coletivo de Artesãs Guajajara da TI Araribóia e a Associação Comunitária Naruy-Taw, visando fortalecer a medicina tradicional indígena e o artesanato local.

Esses esforços resultaram na produção do minidocumentário “Ka’a Wi Zemukatu Haw Ur Tentehar Wanupe – Medicina Tradicional Indígena,” que retrata as práticas de cura e os saberes ancestrais do povo Tenetehar (Guajajara), com foco no uso de plantas medicinais para preservar a saúde e a cultura. 

O documentário é uma expressão artística do impacto desses projetos, guiados pela sabedoria da liderança indígena Haidzmora Cintia Guajajara, e da roteirista e jornalista Isabel Babaçu, que documentaram as expedições dentro da floresta, as oficinas de coleta de sementes e plantas medicinais, além de testemunhos de anciãos e brigadistas da TI Araribóia.

 

Em janeiro de 2024, o projeto reuniu mulheres da TI Araribóia para oficinas e trocas de conhecimentos sobre a medicina Tenetehar, tradicionalmente praticada pelo povo Guajajara. O evento teve a presença de anciãos, lideranças, brigadistas e jovens indígenas, que participaram de atividades como coleta de sementes e plantas medicinais e expedições dentro da floresta.

Marina Cintia Guajajara, tesoureira da Associação e uma das lideranças do projeto, comenta o impacto desse trabalho. “As mulheres vêm se destacando, tanto na preservação da cultura quanto na medicina. O documentário é uma forma de transmitir esse conhecimento para as novas gerações e para outras comunidades.”

As oficinas realizadas no projeto possibilitaram uma rica troca de saberes entre as mais velhas e as mais jovens. “Nas rodas de conversa, as mulheres mais sábias passam seu conhecimento sobre artesanato, coleta de sementes e medicina tradicional. Esses encontros são fundamentais, porque antes não tínhamos esse espaço para valorizar nossa própria medicina”, diz Marina Cintia Guajajara.

Sobre a importância do documentário como ferramenta de divulgação, Marina Cintia Guajajara, também conhecida como Tuira, ressalta, que “o vídeo ajuda a passar a informação, não só para a nossa comunidade, mas para outros territórios também. Ele inspira outras pessoas a valorizar e buscar mais sobre a nossa medicina tradicional.”

Além de registrar práticas culturais, o documentário serve como uma ferramenta de educação e preservação, destacando o papel fundamental das mulheres indígenas na continuidade desses saberes. 

O outro documentário, resultante do edital “Fortalecimento Comunitário e Defesa de Direitos Territoriais no Matopiba”, criado em uma atividade focada na discussão de mudanças climáticas, teve como objetivo trazer visibilidade a temas que até então eram pouco abordados em algumas regiões, especialmente na Terra Indígena Arariboia, no Maranhão, e explorou como as mulheres indígenas têm enfrentado as transformações climáticas.

Um dos principais temas abordados foi a segurança alimentar e as dificuldades crescentes em encontrar plantas medicinais e alimentos utilizados em festividades e rituais espirituais, essenciais para a saúde e a preservação cultural. Essas questões evidenciam a relação profunda que as comunidades indígenas têm com seus territórios e como a preservação ambiental afeta diretamente sua qualidade de vida e cultura.

Para Rodrigo Montaldi, gestor de programas do Fundo Casa Socioambiental, os documentários são uma poderosa ferramenta para fortalecer a identidade e a autonomia das mulheres indígenas. Para ele, esses materiais audiovisuais têm se mostrado importantes para dar visibilidade às suas lutas, revelando como as comunidades locais desenvolvem soluções próprias para os desafios socioambientais que enfrentam.

 “Esses documentários permitem que as comunidades falem por si mesmas, apresentando suas realidades e soluções baseadas no seu conhecimento tradicional. Isso gera um impacto profundo, tanto nas comunidades quanto no público que os assiste”, explica Rodrigo Montaldi. 

Mulheres Indígenas da Arariboia: guardiãs do território e transmissoras de saberes ancestrais

Haidzmora Cíntia Guajajara, conselheira fiscal da Associação da Terra Indígena Arariboia, enfatiza o papel das mulheres, que assumem a responsabilidade de proteger o território e transmitir conhecimentos às futuras gerações. Segundo ela, o protagonismo das mulheres é uma grande responsabilidade que se reflete em ações de preservação e cuidado do meio ambiente. 

“Nós, mulheres indígenas, somos as guardiãs do nosso território. A nossa preocupação é com o futuro do nosso povo e do nosso ambiente. O rio está secando e as nascentes estão desaparecendo. Por isso, estamos comprometidas em trazer de volta o verde, em preservar nossas sementes e cuidar da biodiversidade. Não é apenas a nossa cultura que depende disso, mas também a nossa sobrevivência. O que nós fazemos hoje vai garantir a subsistência das futuras gerações”, ressalta.

Além do cuidado ambiental, as mulheres indígenas desempenham um papel essencial na economia local por meio da produção de artesanato. Haidzmora Cintia Guajajara explica que essa atividade preserva a cultura e garante a sustentabilidade das famílias. “Nós promovemos e envolvemos as mulheres na criação de artesanato para nossas vestimentas e comercialização, o que ajuda na economia familiar”, destaca. 

Outro ponto central do trabalho das mulheres na comunidade é a preservação dos conhecimentos tradicionais sobre as plantas medicinais. “Temos uma relação muito forte com as árvores e as plantas medicinais”, diz a liderança. Ela menciona plantas como a copaíba, a andiroba e a cana brava, usadas na produção de remédios tradicionais e que estão se tornando escassas. “O reflorestamento é essencial para garantir a sobrevivência dessas espécies e manter nosso conhecimento vivo”, completa.

Rodrigo Montaldi, do Fundo Casa, destaca o impacto desses apoios nas comunidades, enfatizando como eles contribuem para a autonomia e resiliência em meio às adversidades. 

“Apesar das dificuldades e grandes conflitos socioambientais, as comunidades locais da região do MATOPIBA e da Amazônia também são uma enorme potência. O apoio financeiro na medida adequada, gerenciado pelas próprias comunidades, tem se demonstrado uma importante estratégia para a defesa de territórios e para o fortalecimento comunitário”, afirma o gestor.

Oficina do Projeto Mulheres na Gestão Socioambiental | COAPIMA


O apoio do Fundo Casa é percebido pelas comunidades como um recurso importante para fortalecer as práticas tradicionais e a preservação dos saberes ancestrais. As iniciativas apoiadas visam promover a autonomia e a resiliência, com um foco especial no protagonismo das mulheres.

Marina Cintia Guajajara destaca a relevância do apoio do Fundo. “Se a gente não movimentar a cultura, a medicina, e o artesanato, isso acaba sendo esquecido. O Fundo Casa tem nos apoiado justamente nesses momentos de valorização e ajuntamento de mulheres, o que fortalece o conhecimento e as práticas da nossa comunidade “, afirma. 

“Esse apoio foi fundamental para valorizar nossos conhecimentos e promover o diálogo entre as anciãs e os jovens. Isso fortaleceu a nossa medicina, e despertou o interesse de outras comunidades em participar de oficinas e trocar conhecimentos”, afirma Haidzmora Cintia Guajajara.

Um exemplo significativo de continuidade do projeto é a produção de uma cartilha bilíngue sobre plantas medicinais, que busca preservar e transmitir o conhecimento sobre a medicina tradicional às futuras gerações. Cintia destaca: “A medicina tradicional é uma forma de resistência. Garantir que esse saber continue vivo é vital para a saúde e o futuro de nossas comunidades.”

Ao longo das duas edições da chamada “Amazônia Resiliente”, realizadas em 2022 e 2023, foram apoiados 81 projetos, com um total de R$3,6 milhões investidos em iniciativas voltadas à resiliência climática e ao fortalecimento comunitário na região. Além disso, a chamada “Fortalecimento Comunitário e Defesa de Direitos Territoriais no Matopiba”, realizada pelo Fundo Casa Socioambiental em parceria com a Fundação Oak, aprovou 41 projetos, somando aproximadamente R$1,9 milhão em apoios. Essas ações reafirmam o compromisso do Fundo com a promoção da autonomia e a defesa dos direitos territoriais e ambientais em áreas vulneráveis.

Os apoios do Fundo Casa Socioambiental têm sido um meio para que as comunidades fortaleçam suas vozes e construam um futuro sustentável, reafirmando que as soluções para os desafios socioambientais estão enraizadas nas práticas tradicionais dessas próprias comunidades.



 









NEWSLETTER

INSCREVA-SE E FAÇA PARTE DE NOSSA REDE
Ao enviar esse formulário você aceita nossa Política de Privacidade