Turismo comunitário na Serra do Gandarela – Para proteger a água e a vida!
A Serra do Gandarela fica em Minas Gerais, na Cordilheira do Espinhaço e no interior do Quadrilátero Ferrífero. É o aquífero mais significativo para o futuro abastecimento público de água para a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Seus mananciais, de grande qualidade ambiental (águas de Classe Especial e/ou Classe1), já são essenciais para os municípios de Raposos, Rio Acima, Caeté e Santa Bárbara e colaboram com a bacia do Rio das Velhas (São Francisco) e do Rio Piracicaba (Rio Doce).
A grande beleza paisagística, relevo montanhoso, biodiversidade bem preservada (segunda maior extensão de Mata Atlântica contínua e maior extensão de campos rupestres sobre cangas ferruginosas de Minas Gerais), dezenas de cachoeiras, mais de cem cavidades (uma delas é uma paleotoca), sítio paleontológico, flora e fauna muito rica – fazem da Serra do Gandarela um local de inestimável importância a nível regional, nacional e internacional.
Por isso, em 2009, o Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela solicitou ao ICMBio a criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, que foi decretado em 13/10/2014 pela Presidência da República. Infelizmente, os limites desta Unidade de Conservação Federal, próxima a Belo Horizonte e Ouro Preto, não contemplaram a área mais relevante em atributos – para permitir a exploração mineral na região – e o pedido feito por comunidades rurais de Santa Bárbara e Barão de Cocais de criação de uma Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) complementar à área do Parque Nacional (onde desenvolvem atividades tradicionais como a apicultura, o manejo de flora e coleta de musgos) não foi atendido. Assim, permanence a ameaça à relevância da região, ao aquifero, aos mananciais de água, à qualidade de vida das pessoas e às perspectivas do Parque Nacional para dinamizar as economias dos municípios através do turismo de lazer, histórico, cultural, científico e ecológico.
O Fundo Socioambiental CASA desde 2011 apoia o Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela e desde então já foram 4 projetos aprovados. Os projetos trabalharam principalmente em questões estratégicas de comunicação que contribuíram significativamente para a criação do Parque Nacional em 2014. Em 2015, o Movimento recebeu o apoio através do Programa Fortalecimento de Comunidades na Busca Pela Sustentabilidade para realizar o projeto “Circuito Águas do Gandarela: geração de renda sustentável por meio do turismo de base comunitária”.
No vídeo acima, o evento “Águas Gerais” realizado pelo grupo Pena de Pavão e Krishna e Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela no Dia Mundial do Meio Ambiente (04/06/2017) em Belo Horizonte. “O projeto leva a bandeira da defesa das águas de Minas Gerais, em especial frente aos impactos da mineração. No caso do Quadrilátero Ferrífero-Aquifero, onde já existem em operação mais de 30 minas de ferro a céu aberto e outras tantas subterrâneas de ouro, o foco é a disseminação da informação de que a segurança hídrica da RMBH depende da preservação da Serra do Gandarela, a única ainda intacta. Ainda é um grande aquífero que produz muita água de boa qualidade que chega às comunidades do entorno e aos cursos de água das bacias dos rios das Velhas (afluente do Rio São Francisco) e Piracicaba (afluente do Rio Doce)”.
O apoio proporcionou diversos encontros com a comunidade local para conscientização a respeito do potencial turístico da região e como o turismo pode trazer benefícios e gerar renda sem agredir o ambiente. Diversas capacitações foram realizadas: artesanato, fotografia e turismo, capacitando a comunidade para receber bem os turistas e profissionalizando o preparo de suas casas para a hospedagem.
Entre os objetivos do projeto realizado, está o desenvolvimento de 9 roteiros turísticos na região, desenvolvidos em parceria com a comunidade e profissionais da área de turismo. Para testar os roteiros e praticar os ensinamentos proporcionados pelas capacitações, foram realizadas visitas de grupos de turistas em viagens de 2 dias. Também foram produzidas peças de comunicação para divulgar o turismo comunitário.
Durante a realização deste projeto, uma catástrofe chocou o Brasil e o mundo: a tragédia em Mariana. Em 5 de novembro de 2015, em cerca de 11 minutos, uma avalanche de 62 milhões de metros cúbicos de lama destruiu por completo a cidade de Bento Rodrigues, devastou outros sete distritos de Mariana e contaminou os rios Gualaxo do Norte, do Carmo e Doce. Milhares de moradores de Minas Gerais e do Espírito Santo tiveram seu abastecimento de água interrompido. A origem do desastre foi a negligência da mineradora Samarco, após o rompimento de duas barragens de rejeitos. Um crime ambiental sem precedentes, um verdadeiro atentado à vida que ainda não foi solucionado. É por esse e outros motivos que o trabalho do Movimento pela Preservação da Serra do Gandarela é importante. A água é o nosso recurso natural mais importante e valioso, devemos preservar suas fontes. Valorizar as comunidades que projetem a água, é valorizar a vida, e o turismo comunitário faz parte disso.