25.11.2022

Não há tempo a perder: A juventude tem pressa e o planeta também

A juventude não quer mais ser apenas um token de inclusão, ela quer ter voz e lugar nas conferências que discutem o futuro do Planeta e a Emergência Climática.

Por Regilon Matos – Fundo Casa Socioambiental

Diante da atual situação econômica, social e ambiental em nosso país e no mundo, é importante que a juventude já desperta, se tornem cada vez mais vigilante e determinada a ocupar seu lugar onde as decisões são tomadas, entrar na arena política e nos espaços da sociedade civil, para um debate transversal com diplomatas, CEOS, presidentes, ativistas e coordenadores do terceiro setor. Dessa forma tornando-se agentes multiplicadores que influenciarão positivamente outros líderes com sua visão aprimorada das ações atuais e sua determinação em garantir um futuro melhor para todos.

Em agosto de 2021 o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que 23% da população nacional soma cerca de 47 milhões de pessoas que têm entre 15 e 29 anos. Nós, esses jovens ativistas, estamos aumentando exponencialmente nosso poder trazendo uma pluralidade de participação na política, nos conselhos governamentais e no debate político mais amplo, como as Conferência das Partes da ONU (COPs). Um excelente exemplo disso é a jovem indígena ativista Txai Suruí, sendo a única brasileira a discursar na 26° conferência de clima em Glasglow, Txaí trouxe à tona a realidade dos impactos das mudanças climáticas nas terras de seu povo na Amazônia quando disse: “Hoje o clima está esquentando, os animais estão desaparecendo, os rios estão morrendo, nossas plantações não florescem como antes. A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo.”

O Youth Sounding Board da União Europeia no Brasil tem como objetivo dialogar com a juventude. No grupo, 15 jovens representam a diversidade do país, entre eles está Regilon Matos, membro da equipe do Fundo Casa Socioambiental. Foto: Embaixada da UE no Brasil

As mudanças climáticas, sem piedade, atingiram todos os cantos do mundo, ainda assim, seu impacto está sendo sentido de forma diferente nos países do Sul Global, que sofrem as terríveis consequências das emissões do mundo “desenvolvido”. A pandemia de Covid-19 amplificou a desigualdade social, tornando visíveis muitas vulnerabilidades e sobrecarregando os jovens com impactos incalculáveis, enquanto se encontravam em meio a uma paralisia global, diminuindo quaisquer perspectivas positivas para seu futuro e elevando seus níveis de ansiedade entre outras doenças físicas e emocionais.

Segundo o geofísico e chefe do Departamento de Física Aplicada da Universidade de São Paulo (USP), Dr. Paulo Artaxo, o mundo enfrenta três emergências simultâneas, emergências com semelhanças e diferenças, e que exigem atenção imediata. São eles: Saúde, Clima e Biodiversidade. A solução chave que todos os três problemas compartilham é a ciência, mas a diferença que distingue cada problema é o tempo que levará para resolvê-lo. A saúde, por conta da pandemia do Covid-19, pode levar anos para resolver; O clima, devido à falta de ação do Norte Global para controlar as emissões de gases de efeito estufa (GEE), pode levar décadas ou mais; e a biodiversidade, uma vez extinta, estará perdida para sempre.

Com a missão de agregar as vozes do futuro, propiciar um espaço seguro de construção e estimular o engajamento dos jovens, a União Europeia e a Embaixada da França no Brasil iniciaram projetos que colocam a juventude como protagonista. A União Europeia abriu inscrições para a juventude no Comitê Consultivo da Juventude para Cooperação Técnica no Brasil (Youth Sounding Board – YSB) com objetivo de incorporar na programação de trabalho a perspectiva de coletivos jovens, e assim, colaborar com a formulação de oportunidades que incluam a juventude nos debates para a elaboração do plano de trabalho dos próximos anos. 

1° reunião presencial do Youth Souding Board na embaixada da União Europeia no Brasil. Foto: Embaixada da UE no Brasil

Graças a Cooperação da Embaixada da França junto com Fundo Casa Socioambiental e outras organizações brasileiras e internacionais, surgiu o Lab Jovens, um programa visionário de mobilização de jovens entre 18 e 26 anos com suporte de ferramentas, mentorias e todo acompanhamento necessário para desenvolver projetos-ações em seus territórios, além de criar uma grande Rede de ativistas dos rios e oceanos.

Além da presença jovem nos ambientes de conferências, é necessário sair desse paradigma onde a nossa imagem é como se fosse um token de inclusão. As juventudes têm pressa e sentem no dia a dia a emergência climática, o aumento da desigualdade social no mundo e as dificuldades nas transições necessárias para encarar de frente os desafios socioambientais do século XXI.

Ademais, o mundo verde e sustentável exige que a cooperação e a confiança sejam as lentes pelas quais enxergamos a sociedade, no âmbito local e global. Nós, a juventude, devemos ter um papel de parceiros imprescindíveis e, para além disso, o papel significativo de implementadores de nossas próprias demandas e iniciativas. “Nós devemos ser incluídos, de forma totalmente integrada, especialmente nas estruturas globais de financiamento para a ampliação das soluções”, afirma Domênica Falcadi, integrante do YSB e coordenadora do Laboratório de Inovação e Tecnologia na organização Engajamundo.

Delegação do Youth Souding Board da União Europeia no Brasil com o Embaixador Ignacio Ybanez. Foto:

Delegação do Youth Souding Board da União Europeia no Brasil com o Embaixador Ignacio Ybanez. Foto: Embaixada da UE no Brasil

Sendo assim, é crucial que quem está no centro dos impactos da crise climática, esteja também no centro de onde as decisões estão sendo tomadas. Nós, como agentes de transformação e pontes de comunicação, estamos levando informação de forma democrática e de fácil entendimento para nossos territórios, e isso precisa cada vez mais ser valorizado. É necessário que os recursos internacionais para combate das emergências climáticas também alcancem estas iniciativas. Por fim, a juventude precisa levar a mensagem sobre a necessidade de cuidarmos das vidas das populações tradicionais, pessoas que estão há milhares de anos preservando e, nos últimos 500 anos, lutando para preservar nossas florestas, rios, oceanos e toda vida que habita neste planeta. 

Sobre o autor: Regilon Matos (Régis) tem 23 anos e trabalha na área de programas do Fundo Casa Socioambiental, atuando em projetos ligados à mitigação das mudanças climáticas. Régis é Engenheiro Civil de formação e fellow da rede Youth Climate Leaders (YCL), líder da realidade climática pelo Climate Reality Project Brasil e membro do Comitê Consultivo da Juventude para Cooperação da União Europeia no Brasil.

 

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