03.12.2019

Fortalecer as comunidades pesqueiras é proteger os rios e mares

Cerca de 70% do pescado que chega nas mesas dos brasileiros é proveniente da pesca artesanal, uma modalidade que sustenta milhares de famílias brasileiras com baixo impacto ambiental. A pesca artesanal não é apenas uma profissão e sim um modo de vida. Os pescadores extraem da natureza apenas o que precisam e apenas o que ela é capaz de repor e desta forma ajudam a manter diversos ecossistemas. Esta relação com a natureza só é possível devido a centenas de anos de boa convivência com as águas. Porém, esta atividade se encontra cada vez mais ameaçada pela pressão e poluição das grandes cidades, pela especulação imobiliária, pesca predatória e o impacto de grandes obras de infraestrutura, como os portos. Recentemente, o grande derramamento de petróleo no litoral brasileiro se tornou mais uma ameaça às populações tradicionais pesqueiras.

Segundo o documento da campanha pelo território publicado pela CPP – Comissão Pastoral da Pesca, “A pesca é mais que uma profissão, é um modo de vida onde o trabalho é livre e tem um regime autônomo e coletivo. Possui relação direta com a natureza, com espiritualidade e mística que suscita respeito e cuidado. O conhecimento da natureza é a principal base de sustentação. Muitos pescadores afirmam que identificam o peixe através da lua e da maré, conhecem os pontos de pesca pelos sinais das diferentes águas. Mas, esta natureza, por causa da intervenção humana, está sendo modificada de forma agressiva. A consequência é que cada vez se torna mais difícil identificar os elementos da natureza como orientadores do ciclo da vida pesqueira.”

Assista Ilha de Deus – Território Pesqueiro:

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O Fundo Socioambiental CASA foi até a Ilha de Deus, no Recife – PE, para conhecer o cotidiano dos pescadores artesanais. Junto com a equipe de comunicação da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, passamos o dia com os pescadores Célio, Cibelle e Antônio para ver de perto como é ser pescador em meio a uma grande cidade. O resultado é o documentário “Ilha de Deus – Território Pesqueiro”. Um dia antes havia chovido e foi possível observar o lixo trazido pelas águas que lavaram a cidade. Todo tipo de material descartado incorretamente nas ruas do Recife é levado pelas águas e vai parar, justamente, no grande berçário de vida marinha que é o manguezal. Cibelle nos conta que quando chove “morre tudo”, os mariscos e peixes que ali habitam morrem com a água poluída trazida pelas chuvas e os pescadores precisam se deslocar para áreas mais próximas da foz do rio, onde as águas limpas do mar ainda garantem a vida marinha.

Célio, Cibelle e Antônio tiram o seu sustento principalmente da pesca da Unha de Velho, um tipo de molusco que cresce no leito do rio. Quando os bancos de areia se formam na maré baixa, os pescadores reviram a areia para extrair o animal. Após a coleta o trabalho é lavar, cozinhar e separar as cascas da carne. Depois de um longo e cansativo dia de trabalho, cada pescador consegue até 4 quilos de unha de velho já limpa e sem casca, que serão vendidos no mercado a cerca de R$ 15,00 o quilo. Somando no final do mês, o lucro do pescador artesanal pode chegar a dois salários mínimos, pagamento mais digno do que o oferecido pela construção civil, por exemplo. Nos últimos meses, devido ao óleo que atingiu o nordeste, moradores locais nos informaram que o preço dos frutos do mar caíram muito, comprometendo seriamente a renda dos pescadores artesanais de todo Nordeste.

Pescadora coletando mariscos próximo ao centro da cidade de Recife.

Na Ilha de Deus no Recife podemos observar muito bem como a pesca faz parte da cultura e do cotidiano dos moradores. Não é exagero falar que todos os 1,5 mil habitantes da Ilha vivem da pesca, seja direta ou indiretamente, todos possuem uma relação com esta atividade. Segundo Severino Barbosa da Silva: “A Ilha de Deus pra mim foi tudo na vida, foi onde enchi minha barriga e é assim até hoje. Só vivo de tanque cheio!”. Mesmo com todos os problemas do presente, a pesca artesanal ainda significa um modo digno de viver. Se você for aos melhores restaurantes do Recife, com certeza irá comer o sururu ou camarão pescado pelos pescadores artesanais.

Josias Pedro da Silva, o Jó, sempre viveu da pesca, em harmonia com o manguezal. Jó nos conta que “A Ilha de Deus representa o Recife antigo, que começou como uma vila de pescadores e se tornou essa grande metrópole”. Mas que houve tempos memoráveis, houve. Há poucos anos ainda havia uma rica variedade de peixes e frutos do mar nos mangues do Recife, porém, o crescimento desordenado da cidade e a falta de tratamento de esgoto reduziram muito esta produção.

Célio Luis dos Santos é morador da Ilha de Deus e tem orgulho de ser pescador.

 

Caranguejo Uçá: Arte e solidariedade – De apoiado a parceiro estratégico

Equipe da Ação Comunitária Caranguejo Uçá – Arte e Solidariedade

A Ilha de Deus é um símbolo da resistência dos pescadores artesanais e a Ação Comunitária Caranguejo Uçá é um grande exemplo de como a comunicação pode ser uma ferramenta importante na defesa dos direitos. A parceria entre Caranguejo Uçá e Fundo CASA não é de ontem, a organização recebeu apoios há alguns anos e hoje é um importante parceiro estratégico no Recife, participando ativamente nas atividades de Fortalecimento de Capacidades com sua grande experiência na Comunicação Comunitária. A Rádio Boca da Ilha e o Jornal da Maré dão voz e cara à Ilha de Deus, trazendo a população para o debate de temas importantes. O Caranguejo Uçá também desenvolve atividades culturais, educação ambiental e igualdade de gênero. A realização de documentário “Ilha de Deus – Território Pesqueiro” seria impossível sem esta parceria.

A captação de recursos é fundamental para que o Fundo CASA possa continuar fortalecendo organizações locais como o Caranguejo Uçá e apoiando iniciativas sustentáveis nos territórios pesqueiros do Brasil. Visite doe.casa.org.br e saiba como contribuir!

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