28.01.2020

Justiça ambiental e a realidade de pessoas com deficiência: Colhendo resultados e motivando a comunidade

Por Attilio Zolin com informações de Eduardo Alfredo Moraes Guimarães – ITC

Em setembro de 2019, nós publicamos uma matéria sobre um desafio que o Fundo Casa aceitou: fazer uma chamada de projetos que unisse justiça ambiental e a realidade de pessoas com deficiência.  O projeto selecionado foi apresentado pelo ITC – Instituto de Terapia Corporal para o Desenvolvimento Humano e Comunitário – em parceria com a Agrossilvicultura São Cosme e Damião. O projeto “A ancestralidade indígena e africana no burburinho do Assentamento de Reforma Agrária” é realizado no Assentamento Floresta do Sul, Município de Maraú – BA, e teve o início de suas atividades em setembro de 2019. Desde o início, gerou grande interesse por parte da comunidade.

Mesmo sem ter sido finalizado ainda, o projeto já mostra resultados positivos. Segundo Eduardo Alfredo Moraes Guimarães, do ITC, “o projeto deu ânimo aos assentados”. A comunidade, que enfrenta dificuldade em manter os jovens interessados nas tradições locais, também carece de apoio psicológico e fisioterápico aos idosos, que sofrem com problemas de mobilidade, devido aos longos anos de trabalho nas grandes plantações de cacau. Uma das situações mais comoventes é a de Dionísio A. Pereira de Souza, de 47 anos, que, devido a um acidente de trabalho, ficou paraplégico. A falta de tratamento adequado resultou em um agravamento de sua situação e uma perda parcial dos movimentos dos membros superiores. 

O projeto é uma interessante mistura de atividades que refletem bem a complexidade do próprio tema. Entre as ações desenvolvidas, com o apoio do Fundo Casa, estão aulas práticas de agrofloresta, a construção de uma casa de farinha e aulas de yoga. Esta junção de diferentes temáticas está sendo fundamental para unir a comunidade e promover a participação das pessoas com mobilidade reduzida. Um resultado animador é a participação de Dionísio, segundo Eduardo: “Ele saiu da cama! Passou a interagir com a comunidade. Essa é uma questão importante! Foi o projeto. Precisa ver Dionísio nas atividades de yoga.”

Teste do ralador de mandioca. Durante o teste foi discutido a utilização do ralador na produção de “Farinha de Telhado” – uma farinha que é produzida sem a utilização do fogo. (Na foto, Marcio Tannus, a pessoa contratada para a construção do ralador). Foto: Maria Eduarda Andrade Guimarães

“Ministrar aulas de Yoga no Assentamento Floresta do Sul tem sido uma experiência transformadora. Podemos praticar Yoga embaixo das Árvores, com os pés no chão, escutando o som da floresta, em extrema conexão com a natureza. Além disso, a intensão de ministrar uma prática inclusiva e acessível proporciona a interação de todos os envolvidos direta e indiretamente no projeto. Movimentamos o corpo, respiramos, vibramos na energia do amor e da cooperação. A cada prática temos a oportunidade de olhar nos olhos dos que estão ao nosso lado e construímos, assim, uma rede de apoio. Nos fortalecemos para caminhar e construir juntxs as atividades propostas no projeto, junto à isso, também se fortalece o senso de viver em comunidade.” – Maria Eduarda Andrade Guimarães, professora de yoga e voluntária do projeto.

Em dezembro, a comunidade concluiu o primeiro módulo do curso de formação em manejo de sistemas agroflorestais e plantou a primeira área demonstrativa do assentamento. O local fica ao lado de onde está sendo construída a casa de farinha comunitária, com recursos do projeto.

Foram plantadas mudas de grandes árvores: noz-de-cola (planta de origem africana, utilizada em rituais), jacarandá da Bahia (utilizada na movelaria e na fabricação de violões), mogno brasileiro (valorizada na indústria de móveis), cedro e outras espécies, juntamente com uma “muvuca” contendo sementes de cacau, cupuaçu, moringa, açaí, pupunha, jambo, jaca etc. Com o objetivo de proteger e “criar” as árvores, foram plantadas manivas de mandioca e mudas de abacaxi. Todo o desenho foi discutido coletivamente, e as espécies foram selecionadas a partir dos conhecimentos das pessoas envolvidas na oficina.

Oficina de Sistemas Agroflorestais em 15 de dezembro de 2019. Plantio após a seleção das espécies. Foto: Maria Eduarda Andrade Guimarães

A oficina foi um encontro de gerações e teve resultados positivos, mas ainda existem muitos desafios a serem superados: a chuva forte que molhou a terra e possibilitou a realização da oficina de agrofloresta, impediu a participação de Dionísio, por conta de sua mobilidade reduzida. Segundo a equipe do ITC, Dionísio necessita de um tratamento em Salvador. Como viabilizar isso? Essa é uma pergunta para a qual ainda não existe resposta. O desafio de unir a justiça ambiental com a realidade de pessoas com deficiência é grande, mas aos poucos os caminhos vão sendo trilhados. O Fundo Casa deve repetir a experiência em 2020 em um novo edital que pretende unir novamente estes temas tão complexos. 

Este projeto foi apoiado por meio de uma parceria entre Fundo Casa e Global Greengrants Fund.

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