Justiça ambiental e a realidade de pessoas com deficiência: Colhendo resultados e motivando a comunidade
Por Attilio Zolin com informações de Eduardo Alfredo Moraes Guimarães – ITC
Em setembro de 2019, nós publicamos uma matéria sobre um desafio que o Fundo Casa aceitou: fazer uma chamada de projetos que unisse justiça ambiental e a realidade de pessoas com deficiência. O projeto selecionado foi apresentado pelo ITC – Instituto de Terapia Corporal para o Desenvolvimento Humano e Comunitário – em parceria com a Agrossilvicultura São Cosme e Damião. O projeto “A ancestralidade indígena e africana no burburinho do Assentamento de Reforma Agrária” é realizado no Assentamento Floresta do Sul, Município de Maraú – BA, e teve o início de suas atividades em setembro de 2019. Desde o início, gerou grande interesse por parte da comunidade.
Mesmo sem ter sido finalizado ainda, o projeto já mostra resultados positivos. Segundo Eduardo Alfredo Moraes Guimarães, do ITC, “o projeto deu ânimo aos assentados”. A comunidade, que enfrenta dificuldade em manter os jovens interessados nas tradições locais, também carece de apoio psicológico e fisioterápico aos idosos, que sofrem com problemas de mobilidade, devido aos longos anos de trabalho nas grandes plantações de cacau. Uma das situações mais comoventes é a de Dionísio A. Pereira de Souza, de 47 anos, que, devido a um acidente de trabalho, ficou paraplégico. A falta de tratamento adequado resultou em um agravamento de sua situação e uma perda parcial dos movimentos dos membros superiores.
O projeto é uma interessante mistura de atividades que refletem bem a complexidade do próprio tema. Entre as ações desenvolvidas, com o apoio do Fundo Casa, estão aulas práticas de agrofloresta, a construção de uma casa de farinha e aulas de yoga. Esta junção de diferentes temáticas está sendo fundamental para unir a comunidade e promover a participação das pessoas com mobilidade reduzida. Um resultado animador é a participação de Dionísio, segundo Eduardo: “Ele saiu da cama! Passou a interagir com a comunidade. Essa é uma questão importante! Foi o projeto. Precisa ver Dionísio nas atividades de yoga.”
“Ministrar aulas de Yoga no Assentamento Floresta do Sul tem sido uma experiência transformadora. Podemos praticar Yoga embaixo das Árvores, com os pés no chão, escutando o som da floresta, em extrema conexão com a natureza. Além disso, a intensão de ministrar uma prática inclusiva e acessível proporciona a interação de todos os envolvidos direta e indiretamente no projeto. Movimentamos o corpo, respiramos, vibramos na energia do amor e da cooperação. A cada prática temos a oportunidade de olhar nos olhos dos que estão ao nosso lado e construímos, assim, uma rede de apoio. Nos fortalecemos para caminhar e construir juntxs as atividades propostas no projeto, junto à isso, também se fortalece o senso de viver em comunidade.” – Maria Eduarda Andrade Guimarães, professora de yoga e voluntária do projeto.
Em dezembro, a comunidade concluiu o primeiro módulo do curso de formação em manejo de sistemas agroflorestais e plantou a primeira área demonstrativa do assentamento. O local fica ao lado de onde está sendo construída a casa de farinha comunitária, com recursos do projeto.
Foram plantadas mudas de grandes árvores: noz-de-cola (planta de origem africana, utilizada em rituais), jacarandá da Bahia (utilizada na movelaria e na fabricação de violões), mogno brasileiro (valorizada na indústria de móveis), cedro e outras espécies, juntamente com uma “muvuca” contendo sementes de cacau, cupuaçu, moringa, açaí, pupunha, jambo, jaca etc. Com o objetivo de proteger e “criar” as árvores, foram plantadas manivas de mandioca e mudas de abacaxi. Todo o desenho foi discutido coletivamente, e as espécies foram selecionadas a partir dos conhecimentos das pessoas envolvidas na oficina.
A oficina foi um encontro de gerações e teve resultados positivos, mas ainda existem muitos desafios a serem superados: a chuva forte que molhou a terra e possibilitou a realização da oficina de agrofloresta, impediu a participação de Dionísio, por conta de sua mobilidade reduzida. Segundo a equipe do ITC, Dionísio necessita de um tratamento em Salvador. Como viabilizar isso? Essa é uma pergunta para a qual ainda não existe resposta. O desafio de unir a justiça ambiental com a realidade de pessoas com deficiência é grande, mas aos poucos os caminhos vão sendo trilhados. O Fundo Casa deve repetir a experiência em 2020 em um novo edital que pretende unir novamente estes temas tão complexos.
Este projeto foi apoiado por meio de uma parceria entre Fundo Casa e Global Greengrants Fund.