10.08.2017

O ponto de partida para a energia solar na Amazônia

No Arquipélago do Marajó, onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico, existem muitas ilhas e o local é de difícil acesso. Para chegar lá, o barco é a única opção de transporte e o custo do combustível é bem alto. Mesmo com todas as dificuldades, existe uma grande comunidade de extrativistas que vive em harmonia com a majestosa floresta, vivendo da pesca e principalmente da extração do açaí, uma planta muito importante na região, seja para a alimentação ou para o comércio que gera renda.

“Estacionamento” de barcos na sede da Associação. O transporte na região é praticamente apenas fluvial e a cidade mais próxima fica a horas de distância.

A relação destas comunidades com o açaí é muito forte e o fruto desta palmeira está sempre no prato dos ribeirinhos. Rico em diversas vitaminas, o açaí é batido com água e consumido junto com o peixe e o camarão. “Se eu não comer a comida com o açaí é como se eu não tivesse comido nada”, diz umas das crianças da escola de ensino fundamental na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itatupã Baquiá, município do Gurupá (PA), onde o Fundo Socioambiental CASA apoiou o projeto “Processamento de frutas tropicais, segurança alimentar, geração de renda sustentável e fortalecimento das mulheres extrativistas.”

Como o nível do rio sobre e desce todos os dias, não existe nenhuma casa em terra firme nesta região, todas são palafitas. É muito comum ver as grandes plantações de açaí ao redor das casas.

O objetivo do projeto realizado pela Associação dos Trabalhadores Rurais Agroextrativistas do Itatupã e Baquiá – ATRAEIB, foi viabilizar a instalação de uma mini indústria de processamento de frutas tropicais utilizando energia solar, pois a geografia da região impossibilita a chegada de energia elétrica através dos modos convencionais como acontece na maior parte do Brasil. O projeto recebeu cerca de R$29 mil e foi contemplado no Programa Fortalecimento de Comunidade na Busca Pela Sustentabilidade, uma parceria entre Fundo Socioambiental CASA e Fundo Socioambiental CAIXA.

Açaí pronto para ser processado para a extração de sua polpa. As máquinas de processamento foram adquiridas através do projeto apoiado, assim como o sistema de geração de energia fotovoltáica.

Na região, todo o comércio do açaí é feito por atravessadores que chegam de barco até a Reserva e compram a produção dos extrativistas. Porém, na época da principal safra do açaí, quando a produção aumenta muito, os preços caem. Sem a possibilidade de armazenar a produção, os extrativistas eram obrigados a vender a um preço bem mais baixo. Com a mini usina fotovoltáica em funcionamento as coisas mudaram e o açaí é armazenado e sempre negociado a um preço muito mais competitivo, proporcionando um grande aumento na renda dos membros da Associação.

A reunião para escolha do novo presidente da Associação reuniu dezenas de famílias. Juntos, os associados conseguem gerar muito mais renda com a mini usina.

Segundo Heraldo Pantoja, que trabalhou na coordenação do projeto, “O projeto apoiado pelo Fundo Socioambiental CASA foi o ponto de partida para a gente discutir a energia na Amazônia e hoje já estamos com 13 projetos financiados pelo Banco do Brasil em Gurupá através do Pronaf Eco. O projeto apoiado pelo Fundo CASA mostrou que é viável sim a energia solar na Amazônia”.

Ao centro, Heraldo Pantoja e “Palheta”, presidente da Associação, juntos com a equipe que instalou os painéis solares.

Para manter em funcionamento um gerador a diesel que gera energia apenas 3 horas por dia, as famílias da região do Marajó gastam em média R$ 8 mil por ano em combustível, sem considerar gastos de manutenção. Com a geração de energia fotovoltaica isso muda completamente. Através das linhas de crédito disponíveis atualmente, com apenas R$ 2 mil por ano já é possível financiar um sistema fotovoltaico. E o mais importante: o sistema  garante energia 24 horas por dia, possibilitando a instalação de geladeiras e freezers para o armazenamento de alimentos, proporcionando segurança alimentar e econômica às famílias.

Painéis solares instalados na Associação dos Trabalhadores Rurais Agroextrativistas do Itatupã e Baquiá – ATRAEIB.

Além de aumentar a renda, a mini usina proporciona trabalho para as mulheres, pois enquanto os homens estão na mata colhendo os frutos, as mulheres estão trabalhando no processamento. O armazenamento proporcionou também à escola da região a possibilidade de servir sempre o açaí na merenda, pois é dele que as crianças gostam e estão acostumadas a comer, e não as comidas industrializadas provenientes da cidade. Mas o mais importante deste projeto foi a possiblidade de levar a tecnologia da geração de energia solar e mostrar para estas comunidades que apesar de recente, esta tecnologia já está acessível para todos e pode mudar muitas vidas para melhor.

A história deste projeto será mostrada em breve em um documentário produzido pelo Fundo Socioambiental CASA. Assine nossa newsletter para receber esta e outras novidades.

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Palheta, presidente da Associação, realizando o processamento dos frutos do açaí para a extração da polpa.

Vista da Associação dos Trabalhadores Rurais Agroextrativistas do Itatupã e Baquiá – ATRAEIB.

Baterias e inversor fazem parte do sistema de energia fotovoltáica e foram adquiridos com recursos do projeto apoiado pelo Fundo CASA.

Os geradores a diesel são muito comuns na região mais o custo do combustível é muito elevado, devido as grandes distâncias. O gasto anual em combustível pode chegar a R$ 8 mil por ano para manter o gerador ligado apenas 3 horas por dia. Os moradores costumam ligar os geradores no final da tarde para iluminar as casa e assistir televisão através de antenas parabólicas.

A escola de ensino fundamental da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itatupã Baquiá ficou cheia com a votação para escolha do novo presidente da Associação.

Fotos: Attilio Zolin/Fundo Socioambiental CASA






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