Fundo Casa amplia apoios estratégicos com recursos doados por MacKenzie Scott

Com liberdade na aplicação dos recursos, Fundo Casa Socioambiental amplia chamadas estratégicas para temas que ainda carecem de apoio

Impulsionar iniciativas locais de forma sistêmica e distribuída é uma estratégia do Fundo Casa, foi assim que apoiamos mais de 3 mil projetos por todo Brasil e América do Sul ao longo dos últimos 18 anos. E foi com uma estratégia parecida que a filantropa estadunidense Mackenzie Scott doou, apenas em 2022, U$3,8 bilhões de dólares para 465 organizações de todo o mundo. Deste total, cerca de U$17 milhões foram destinados a 16 organizações brasileiras, entre elas, 7 fundos locais para justiça social e fundações comunitárias. Apesar de possuírem abordagens diferentes, todas as organizações brasileiras apoiadas por Scott possuem algo em comum: desenvolvem iniciativas que buscam resolver problemas sociais por meio de soluções sistêmicas. Outra estratégia em comum de muitos dos seus apoios é o fato de serem fundos ativistas do Sul Global. Além dos fundos brasileiros, Scott também doou na mesma época cerca de U$160 milhões para fundos de mulheres no mundo todo.

Estar entre as organizações apoiadas por Scott é para o Fundo Casa um importante reconhecimento, são anos de trabalho e vidas de dedicação. Para nós, é mais do que um gesto de confiança, é uma mensagem que diz que estamos no caminho certo. Agora, é hora de fazer com que esses recursos cheguem diretamente às comunidades e às pessoas que são as verdadeiras protagonistas e criadoras das mudanças que queremos ver no mundo. O Fundo Casa recebeu de Mackenzie Scott cerca de R$25 milhões e o objetivo é que este recurso seja usado em sua grande maioria para o apoio direto a projetos durante os próximos anos, de forma cuidadosa, para ir complementando estratégias de apoio que incluam temas e populações que outros financiadores ainda não valorizam devidamente.

O grande diferencial deste recurso é a liberdade dada a todas as organizações contempladas para que apliquem onde acreditam ser mais estratégico para seu campo de atuação e missão. Para o Fundo Casa, é um grande diferencial poder doar para temáticas que são importantes, mas carecem de apoio por não estarem no radar da maioria dos financiadores, mas sim no nosso, por trabalharmos muito perto da base.  Poderemos também fortalecer e ampliar doações para áreas que já apoiamos, mas cujos recursos que somos capazes de captar têm sido insuficientes para fazer uma real diferença no campo.

Para Maria Amália Souza, fundadora e Diretora de Desenvolvimento Estratégico do Fundo Casa, a forma de Mackenzie Scott doar é inovadora pois “quebra com a tradição da filantropia do Norte de impor para nós uma agenda pré-definida por eles e seus consultores – supostos especialistas nas nossas regiões e problemas.  Exatamente por essa forma convencional de atuar é que até hoje os grupos mais estratégicos para a proteção dos mais importantes biomas globais não têm tido o devido acesso a recursos. A partir do momento em que nós mesmos, que somos parte dos movimentos amplos de proteção ambiental com justiça social do Sul Global, podemos determinar onde os recursos estão faltando, e orientar para que cheguem nas mãos dos grupos mais invisíveis para a filantropia, é que os resultados tão buscados finalmente começam a acontecer.” Como a própria MacKenzie Scott diz, no texto em que divulgou as suas doações: “Equidade só pode ser realizada quando todas as pessoas envolvidas têm a oportunidade de ajudar a resolvê-la. […] Quando nosso time de doações foca em qualquer sistema em que as pessoas estão lutando por uma questão, não supomos que nós, ou qualquer outro grupo em particular, pode saber como consertá-lo. Não defendemos qualquer política ou reforma em particular. Ao contrário, buscamos um portfólio de organizações que apoiam a habilidade de todas as pessoas poderem participar nas soluções.”

Foi graças a estes recursos que o Fundo Casa pôde abrir pela primeira vez uma chamada com foco exclusivo na Mata Atlântica, que muitas vezes é deixada de lado frente às incontáveis urgências que assolam a Amazônia e o Pantanal, por exemplo. Recentemente, a Mata Atlântica que nos resta voltou a ser ameaçada por projetos que visam flexibilizar o desmatamento da floresta. Nesta primeira chamada para o bioma, o Fundo Casa irá apoiar 45 projetos somando um total de R$1,8 milhão em doações diretas para comunidades e iniciativas que busquem criar soluções para os desafios socioambientais enfrentados no bioma. O Fundo Casa busca parceiros para ampliar este programa nos próximos anos, tal qual temos feito com várias outras abordagens estratégicas que crescem nas parcerias.

Em abril, em torno de R$ 270 mil doados por Mackenzie Scott foram somados a recursos da Aliança GAGGA (Global Alliance for Green and Gender Action) e Embaixada da França no Brasil, para apoiar iniciativas de organizações de base comunitária lideradas por mulheres, com objetivo de fortalecer as vozes, a liderança e resiliência destas mulheres na linha de frente da ação climática em todo território nacional. A chamada encerrou suas inscrições em 12 de maio, e irá apoiar até 24 projetos de R$35 mil cada, somando um total de R$840 mil em doações diretas para estas organizações.

Até o final do ano, mais R$3 milhões serão doados pelo Fundo Casa e este valor deve incluir uma chamada exclusiva para apoio a projetos de comunidades quilombolas e os apoios seguirão nos anos seguintes. Segundo Cristina Orpheo, Diretora Executiva do Fundo Casa, “A forma de Mackenzie Scott doar é inspiradora, pois é baseada na confiança informada. Ela faz suas escolhas baseadas num amplo e minucioso levantamento da capacidade institucional de cada um de seus apoiados. É também acreditando no poder transformador das relações de confiança que o Fundo Casa promove a justiça socioambiental, fazendo com que estes recursos cheguem onde precisam, na quantidade ideal e no tempo adequado. Grupos de base comunitária são totalmente capazes de criar e executar propostas robustas e inovadoras, assim como de gerir seus recursos de forma idônea. Temos total confiança e prova incontestável disso durante nossa longa história de doações diretas. Chegou a hora de, mais uma vez, fazer a roda da confiança girar.”