08.03.2023

Maria Amália Souza, criadora do Fundo Casa Socioambiental, ganha reconhecimento internacional de proteção global do meio ambiente

Trabalho de financiamento estratégico de defensoras e defensores dos grandes biomas sulamericanos,  e inspiradora da multiplicação desse modelo para outros países do Sul Global, Amália ganha reconhecimento na lista internacional das “16 Mulheres que Restauram a Terra 2023”, divulgado pelo Global Landscapes Forum no dia 8 de março. Ela é parte de um grupo seleto de brasileiras homenageadas pelo fórum.

Maria Amália Souza é a única brasileira entre as 16 contempladas pela instituição neste ano,  edição 2023 do “16 Women Restoring the Earth”. Organizador da premiação, o “Global Landscapes Forum” é a maior plataforma global de uso integrado da terra, dedicada a alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e o Acordo do Clima de Paris. A instituição é liderada pelo Centro de Investigação Florestal Internacional (CIFOR), em colaboração com o Programa da ONU para o Meio Ambiente (UNEP), o Banco Mundial e Membros da Carta (ONU).

Confira a lista das homenageadas deste ano:

  • A Estrategista: ANDREA MEZA MURILLO, Secretária Executiva Adjunta da UNCCD e ex-Ministra de Energia e Meio Ambiente do Governo da Costa Rica.
  • A Conectadora: ANNETTE PENSEL, Diretora Executiva, Global Coffee Platform (Alemanha).
  • A Investidora: AYESHA KHAN, Diretora Regional, Acumen Paquistão – especialista em financiamento sustentável para o clima.
  • A administradora: CAMILLE RIVERA, cofundadora e diretora da Oceanus Conservation, coordenadora do capítulo GLFx Mindanao e administradora da restauração 2021 (Filipinas).
  • A investigadora: EDILMA PRADA, jornalista investigativa, bolsista Pulitzer e fundadora e diretora da organização de mídia independente Agenda Propia (Colômbia).
  • A Líder: ÉLIANE UBALIJORO, futura CEO da CIFOR-ICRAF e Diretora Executiva, Sustentabilidade na Era Digital (Ruanda).
  • A Educadora: EVA MAKANDI, Fundador, Light On A Hill (LOAH) e Forest Restoration Steward 2022 (Quênia).
  • A Ativista: INEZA GRACE, Coordenadora, Perda e Danos Youth Coalition (Ruanda).
  • A Artista: INNA MODJA, artista visual, músicista, UNCCD Land Ambassador e CEO e co-fundadora da Code Green (Mali).
  • A Formuladora de Políticas: IRYNA STAVCHUK, gerente do programa para a Ucrânia na European Climate Foundation e ex-vice-ministra do governo ucraniano.
  • A Filantropa: MARIA AMÁLIA SOUZA, Cofundadora e Diretora de Desenvolvimento Estratégico do Fundo Casa Socioambiental (Brasil).
  • A Contadora de Histórias: MOKY MAKURA, apresentadora de TV, produtor, autor e Diretor Executivo da Africa No Filter (Nigéria).
  • A Defensora: PASANG DOLMA SHERPA, Diretora Executiva, Centro de Pesquisa e Desenvolvimento dos Povos Indígenas (CIPRED) (Nepal).
  • A advogada: SYEDA RIZWANA HASAN, advogada ambiental, chefe executiva da Associação de Advogados Ambientais de Bangladesh (BELA).
  • A Empresária: VIOLET AMOABENG, Fundadora e CEO da Skin Gourmet (Gana).
  • A Financiadora: YURIKO BACKES, Ministra das Finanças de Luxemburgo.

Outras brasileiras já foram reconhecidas pelo GLF em edições anteriores. Em 2022, foi a vez da modelo e ativista Gisele Bundchen e da cientista Luciana Gatti, pesquisadora sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que estuda mudanças climáticas e emissões de gases de efeito estufa, serem nomeadas. A atual ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara, foi listada em 2021 e, em 2020, a empreendedora Fe Cortez, que trabalha com a recuperação de resíduos sólidos. Entre líderes globais nos anos anteriores se destacam Jane Goodall, Wanjira Mathai, e Samantha Power. O Fórum busca uma abordagem holística para criar territórios sustentáveis que sejam produtivos, prósperos, justos e resilientes, e se sustenta em 5 eixos: alimentação e habitat, recuperação de paisagens, direitos, financiamento e mensuração de progressos e resultados. 

Quando deixou sua pequena cidade no estado de São Paulo, em meio à Ditadura Militar, para fazer faculdade nos Estados Unidos, na década de 1980, Maria Amália Souza não imaginava que seria impactada a ponto de voltar ao Brasil para liderar a criação do primeiro fundo socioambiental da América do Sul, desenvolvido por sulamericanos para sulamericanos. Mas foi o que aconteceu. Há décadas ela luta para assegurar financiamento para grupos de base comunitária tradicionais, os verdadeiros guardiões dos importantes biomas da região. Em 2005, criou o Fundo Casa Socioambiental, que tem desenvolvido estratégias para fazer o dinheiro de grandes investidores chegar ao coração da floresta, ou seja, às organizações e comunidades que tradicionalmente vivem e conhecem os biomas e que são  fundamentais para a conservação da biodiversidade no planeta, incluindo a Amazônia, o Cerrado, o Pantanal, entre outros. 

Graduada em Serviços e Desenvolvimento International com foco em Estudos Internacionais de Meio Ambiente pela World College West, na Califórnia, Amália dedicou sua carreira a entender como os recursos de grandes fundações filantrópicas poderiam chegar na ponta e fazer a diferença na conservação do planeta. Ela é membro-fundadora da Rede Comuá  (Filantropia para Justiça Social), membro do Steering Committee do Human Rights Funders Network, parte do Conselho Diretor da AIDA – Associação Interamericana de Defesa Ambiental, e lidera a participação do Fundo Casa Socioambiental em várias coalizões internacionais de fundos/fundações filantrópicas. 

Trabalhando em redes capilarizadas e com grande conhecimento sobre o funcionamento da filantropia em vários países, o trabalho de Maria Amália e do Fundo Casa Socioambiental apoia atualmente uma média de 500 projetos por ano. Ao longo de sua história já apoiou mais de 3 mil projetos em 10 países. R$ 77,3 milhões de reais chegando nas mãos de comunidades ribeirinhas, associações de pescadores em regiões afetadas por vazamentos de óleo, grupos de mulheres artesãs, associações de agroecologia, comunidades indígenas, quilombolas, sustentabilidade urbana, soberania alimentar, entre tantas outras formas complementares de aportar recursos para se obter resultados sistêmicos.

Maria Amália Souza se dedica a desenhar estratégias sistêmicas para assegurar que recursos filantrópicos cheguem aos grupos de base comunitária mais excluídos e vulneráveis. Em 2016, esteve entre 7 finalistas globais para o Prêmio Olga Alexeeva para inovadores na filantropia do Sul Global.

Esse trabalho já influenciou a criação e fortalecimento de outros 8 fundos ao redor do mundo, que apoiam a conservação com justiça social de alguns dos mais importantes biomas do planeta. A Alianza Socioambiental Fondos del Sur, idealizada por ela, e composta  por 9 fundos socioambientais na América Latina, África e Ásia tem chamado a atenção de grandes fundações filantrópicas globais, fazendo com que milhões de dólares circulem e cheguem nas comunidades para ações efetivas. 

“Falta dinheiro na mão dos povos das florestas”, afirma a especialista, juntamente com o dado de que 80% das florestas que ainda estão de pé no planeta se localizam em territórios de povos originários, como reservas indígenas e de comunidades tradicionais. Segundo Maria Amália, é nesses locais – e nessas mãos –  que o dinheiro precisa chegar. 

O trabalho dela tem atraído grandes corporações do Vale do Silício e as principais fundações filantrópicas como Oak Foundation, Mott Foundation, Gordon and Betty Moore Foundation, Climate and Land Use Alliance  ou o Forests People and Climate initiative, que já aprovou  US$ 8 milhões nos próximos anos para fortalecer a aliança global dos fundos socioambientais. 

Amália navega no Rio Jordão, a caminho da terra do povo Huni Kuin, em 2000, no Acre. Foto: Joseane Daher

“Já são 38 anos trabalhando para que o recurso chegue de várias formas. Não tem como proteger a Amazônia ou qualquer importante bioma sem colocar dinheiro em escala nas mãos de seus protetores. Não são os grandes projetos que fazem a diferença, mas a arte de apoiar múltiplas abordagens complementares de milhares de comunidades dentro dos grandes biomas. Muitas vezes o recurso não chega a quem mais precisa e efetivamente protege o planeta. Nosso desafio é apoiar o máximo de comunidades nessas situações de vulnerabilidade para que assumam o protagonismo e façam o que sempre fizeram: proteger a Amazônia e outros biomas. Agregamos um valor enorme de conhecimento e experiência para estar nessas redes de confiança, que fazem com que o recurso chegue de forma segura”, revela a ambientalista. “Nosso processo é simplificado. Fazemos chamadas de financiamento e há uma extensiva rede de confiança que espalha a notícia e apoia o processo para que os projetos dos grupos mais remotos e invisíveis cheguem até nós. Assim, chegamos na ponta, em quem realmente faz a diferença no cuidado das florestas e do planeta”, explica. 

Para fazer milhões de dólares chegarem a pequenas comunidades e disseminar impacto, o Fundo Casa Socioambiental desenvolveu uma robusta e eficiente sistemática de gerenciamento financeiro, monitoramento e avaliação para os apoios diretos, além de contar com essa poderosa teia de redes de confiança e colaboração. “São nossos olhos e ouvidos nos territórios, que junto com as ferramentas que desenvolvemos para fortalecer suas capacidades, garantem uma autonomia cada vez maior para esses grupos. Acreditamos que a transformação parte da escuta, e por isso ouvimos os verdadeiros protagonistas de cada causa que abraçamos: aqueles que têm suas vidas diretamente afetadas por qualquer alteração no território que ocupam”, diz a ativista homenageada. 

 

 

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