Mulheres na luta e na resistência contra a violência
Por Dani Silva e Francinalda Rocha
No ritmo do Movimento Ibiapabano de Mulheres (MIM), do território da Ibiapaba – CE, somos embaladas por nossa bandeira de luta: enfrentamento da violência contra as mulheres. Em todos os espaços da sociedade, a mulher sofre violência e precisamos contribuir para a mudança desse cenário. Por mim, por nós e por todas, vamos juntar nossas forças e energias para impulsionar cada vez mais a luta contra o patriarcado racista que quer dominar nossas mentes e controlar nossas vidas. A nossa luta é para que nenhuma mulher seja violentada e que não se sinta desamparada.
No ano de 2021, ainda convivendo com a pandemia, embora com a chegada da vacina, os procedimentos de segurança precisaram continuar. Em consequência continuou o isolamento social, o que contribuiu com o aumento da violência contra a mulher, o feminicídio, propiciando agressões mais graves dentro de casa e crescendo o número de violência doméstica.
Com o apoio do Fundo Casa foi possível contribuir para alavancar as ações do MIM na denúncia das violências sofridas pelas mulheres, bem como na reflexão sobre elas e, assim, poder amparar as mulheres que se encontravam desanimadas por meio das rodas de escuta ativa. A voz da mulher precisa ocupar os seus espaços de fala, nesse propósito se deu a oficina de fala pública.
O ecoar da voz feminista
A promoção de formação das integrantes do MIM e das mulheres lideranças políticas sobre fala pública, nos faz refletir e exercitar a fala como instrumento de luta e empoderamento na conquista de direitos e na transformação social.
A fala pública, para nós feministas, é um grande desafio, pois desestrutura a lógica patriarcal, racista, machista, heteronormativa e capitalista. Ao se levar em consideração essa sociedade como está estruturada, é preciso desenvolver a fala pública como uma atitude antissistêmica.
Com a fala potente das mulheres se tem denunciado as desigualdades sociais, econômicas, ambientais e as injustiças que interferem na conquista dos nossos direitos.
Sem feminismo não há agroecologia
Para a promoção da saúde das mulheres foi fortalecido o espaço da horta urbana Laudelina de Campos Melo, que é um fundo de quintal, localizado no centro do município de Viçosa do Ceará. Foi cedido com a finalidade de melhorar a autoestima das mulheres em situação de vulnerabilidade econômica agravada pela pandemia do Covid-19, além de incentivar a prática agroecológica. Ali, elas se alimentam e com o excedente comercializam para promoção de sua autogestão. As atividades são realizadas com mulheres que moram na zona urbana do município em parceria com a Budega do Povo e o Movimento Ibiapabano de Mulheres – MIM.
Na Horta Laudelina tem mãos femininas que se juntam e fazem a vida florescer: cultivo de tomates, pimentões, chicória, variados tipos de pimentas; canteiro circular com plantas ornamentais e Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANCs; cobertura de solo, poda das culturas de tomate, berinjela e pimentão; colheita de tomate cereja, pimenta de cheiro, cebolinha e coentro e, o mais importante, é uma experiência com a mãe Terra.
A horta urbana comunitária Laudelina é um espaço de acolhimento e de resistência na luta feminista onde as mulheres têm acesso a uma boa alimentação e hábitos mais saudáveis.
Para Franci Costa, uma das agricultoras, “a horta é tudo. Alimento certo em nossa mesa. Alimenta a alma. Alimento sem veneno. Comida saborosa. Plantas com variedades de nutrientes. Seria maravilhoso encontrar outros espaços urbanos para ampliar a horta e chamar mais pessoas para colaborar com a gente. O bonito da horta é que quando precisamos de alimentos poderemos pegar e ainda partilhar com quem precisa”, diz com satisfação.
Segundo a Toinha, outra agricultora da horta Laudelina, “A horta urbana é uma psicóloga, por curar a gente. No momento difícil que estamos vivendo nos dá forças. A energia que recebemos quando entramos aqui é muito especial. Faz a gente esquecer os problemas”.
A sustentabilidade do Movimento
No processo de construção da sustentabilidade do MIM, o movimento realizou diálogos com as companheiras feministas que contribuíram com a tomada de decisões. Foi produzido o diagnóstico, um plano de sustentabilidade social, econômica e política e a elaboração da identidade com a visão de cada integrante. Nas rodas de conversas foi verificado que o MIM antes da pandemia realizava reuniões presenciais, planejamentos, plenárias, falas públicas, encontros na sede e atualmente ficou limitado às redes sociais, mas que aos poucos volta para encontros presenciais. Com os pares temos encontros presenciais para formações e plenárias.
O racismo existe e exclui as mulheres.
Para compreender esse desafio é preciso refletir coletivamente o que se passa com as mulheres. Com a realização de uma formação que foram debatidas as diferentes temáticas: Enfrentamento à violência contra as mulheres pretas-racismo, preconceito e discriminação; Racismo estrutural; Negritude e branquitude; Racismo institucional; Racismo religioso; e Racismo na mídia, possibilitou que as pretas refletissem sua identidade racial, trabalhando a autoestima e a autoafirmação de negritude.
Pretas e não pretas perceberam onde se manifesta o racismo em suas vidas e, também, como poderiam partilhar saberes sobre nossa atuação em práticas cotidianas de antirracismo e refletir como as pretas e não pretas se percebem e onde se manifesta o racismo em suas vidas. Entender sobre os impactos do racismo religioso e da mídia na vida das mulheres negras. São conhecimentos que passam despercebidos cotidianamente e que precisam ser revelados e fortalecidos na luta antirracista. Queremos também denunciar o genocídio da população negra brasileira, em curso desde a fundação da nação, e intensificado nestes dias tão incertos.
Conversa de mulher para mulher
Para romper esse ciclo de violência contra as mulheres é preciso primeiro acolher as mulheres que passaram por violência e sensibilizar as outras mulheres que não reconhecem que são violentadas cotidianamente, por acharem isso normal.
A escuta ativa está sendo um momento importante para encontrar a autoestima das mulheres vulnerabilizadas por ter sofrido violência física, verbal, psicológica no âmbito publico ou privado. Sabemos que sair do ciclo de violência é um processo demorado. Mas, que aos poucos as mulheres estão passando a se compreender, como cita uma participante da roda de escuta: “Há uma necessidade de nós mulheres termos liberdade. Muitas vezes nos encontramos em situações que somos limitadas. A sociedade quer moldar a gente. Aí sofremos por não se encaixar. Precisamos dizer para sociedade que ninguém nos define, pois cada mulher é um ser único”. Outra ainda afirma que “A sociedade precisa nos respeitar. Há necessidade de denunciar. Precisamos mostrar nossa liberdade e lutar por nós”.
Pelo fim da violência contra as mulheres juntamos nossa voz e conclamamos outras companheiras para abraçar essa luta conosco.