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Novas e velhas parcerias em defesa dos biomas costeiros
Em 2019, o litoral brasileiro sofreu um desastre sem precedentes. O derrame do óleo cru deu seus primeiros sinais em agosto, e, sete meses depois, ainda há registros de óleo em algumas praias. São mais de 2 mil quilômetros de praias atingidas, do Nordeste ao Sudeste, afetando mangues, rios, corais e outros biomas. O desastre impactou de forma profunda o modo de vida das populações tradicionais que vivem da pesca artesanal. Até hoje não se sabe exatamente qual a origem do óleo e, com o passar do tempo, temos a impressão de que esta resposta nunca vai chegar. As consequências desta tragédia ambiental podem perdurar por décadas.
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Os primeiros sinais do óleo cru nas praias surgiram em agosto de 2019. Foto: Luiza Medeiros/Acervo Oceânia
O Fundo CASA possui um histórico de parceria com dezenas de grupos que atuam na preservação dos biomas costeiros e na melhoria da qualidade vida destas populações. Em parceria com o Instituto Humanize, o Fundo CASA lançou em janeiro uma chamada de projetos focada exclusivamente em apoiar as comunidades impactadas pelo derrame de óleo. Esta parceria resgata nossas esperanças e vai possibilitar o apoio de até 15 projetos.
Mas há também o caso de projetos que estavam em execução com outros objetivos e tiveram que redirecionar as velas de acordo com os novos e terríveis ventos. É o caso da Rede MangueMar do Rio Grande do Norte, que iniciou seu projeto em 2018 com o objetivo de promover espaços de formação e articulação entre os pescadores do estado. Surpreendidos com o óleo que atingiu as praias, estes espaços se transformaram em local de debate sobre a situação e ajudaram na articulação dos atingidos.
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A pesca artesanal não é apenas uma profissão, é um modo de vida e está profundamente ligada à cultura das populações costeiras. Foto: Giovanni Sérgio/Acervo Oceânica
Ao longo do projeto foram realizados 5 fóruns, a construção de um plano de comunicação, um mutirão de limpeza de áreas de estuário e mangues do Rio Pirangi, participações em audiências públicas, encontros com o Ministério Público Federal Rio Grande do Norte e uma simulação de tribunal que foi chamada de “Tribunal Popular dos Pescadores e Pescadoras do RN: impactos do trabalho na vida, trabalho e ambiente da pesca artesanal”. Este evento contou com a participação de 90 pescadores e pescadoras que trouxeram testemunhos dos impactos em suas vidas.
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Segundo José Elio da Silva Souza, um dos fundadores da Rede MangueMar e morador da RDS – Estadual Ponta do Tubarão: “A gente espera que os responsáveis por este dano corrijam isso, e não só ambientalmente, mas também socialmente, pois os pescadores ficaram sem pescar. O próximo passo é a gente continuar se reunindo e cobrar o encaminhamento do ministério. Sem o apoio do Fundo CASA a gente não teria essa possibilidade, foi importante.” O Fundo CASA irá continuar apoiando e fortalecendo os pescadores e pescadoras artesanais, que são os grandes protetores dos biomas costeiros do Brasil.