O ponto de partida para a energia solar na Amazônia
No Arquipélago do Marajó, onde o Rio Amazonas deságua no Oceano Atlântico, existem muitas ilhas e o local é de difícil acesso. Para chegar lá, o barco é a única opção de transporte e o custo do combustível é bem alto. Mesmo com todas as dificuldades, existe uma grande comunidade de extrativistas que vive em harmonia com a majestosa floresta, vivendo da pesca e principalmente da extração do açaí, uma planta muito importante na região, seja para a alimentação ou para o comércio que gera renda.
A relação destas comunidades com o açaí é muito forte e o fruto desta palmeira está sempre no prato dos ribeirinhos. Rico em diversas vitaminas, o açaí é batido com água e consumido junto com o peixe e o camarão. “Se eu não comer a comida com o açaí é como se eu não tivesse comido nada”, diz umas das crianças da escola de ensino fundamental na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Itatupã Baquiá, município do Gurupá (PA), onde o Fundo Socioambiental CASA apoiou o projeto “Processamento de frutas tropicais, segurança alimentar, geração de renda sustentável e fortalecimento das mulheres extrativistas.”
O objetivo do projeto realizado pela Associação dos Trabalhadores Rurais Agroextrativistas do Itatupã e Baquiá – ATRAEIB, foi viabilizar a instalação de uma mini indústria de processamento de frutas tropicais utilizando energia solar, pois a geografia da região impossibilita a chegada de energia elétrica através dos modos convencionais como acontece na maior parte do Brasil. O projeto recebeu cerca de R$29 mil e foi contemplado no Programa Fortalecimento de Comunidade na Busca Pela Sustentabilidade, uma parceria entre Fundo Socioambiental CASA e Fundo Socioambiental CAIXA.
Na região, todo o comércio do açaí é feito por atravessadores que chegam de barco até a Reserva e compram a produção dos extrativistas. Porém, na época da principal safra do açaí, quando a produção aumenta muito, os preços caem. Sem a possibilidade de armazenar a produção, os extrativistas eram obrigados a vender a um preço bem mais baixo. Com a mini usina fotovoltáica em funcionamento as coisas mudaram e o açaí é armazenado e sempre negociado a um preço muito mais competitivo, proporcionando um grande aumento na renda dos membros da Associação.
Segundo Heraldo Pantoja, que trabalhou na coordenação do projeto, “O projeto apoiado pelo Fundo Socioambiental CASA foi o ponto de partida para a gente discutir a energia na Amazônia e hoje já estamos com 13 projetos financiados pelo Banco do Brasil em Gurupá através do Pronaf Eco. O projeto apoiado pelo Fundo CASA mostrou que é viável sim a energia solar na Amazônia”.
Para manter em funcionamento um gerador a diesel que gera energia apenas 3 horas por dia, as famílias da região do Marajó gastam em média R$ 8 mil por ano em combustível, sem considerar gastos de manutenção. Com a geração de energia fotovoltaica isso muda completamente. Através das linhas de crédito disponíveis atualmente, com apenas R$ 2 mil por ano já é possível financiar um sistema fotovoltaico. E o mais importante: o sistema garante energia 24 horas por dia, possibilitando a instalação de geladeiras e freezers para o armazenamento de alimentos, proporcionando segurança alimentar e econômica às famílias.
Além de aumentar a renda, a mini usina proporciona trabalho para as mulheres, pois enquanto os homens estão na mata colhendo os frutos, as mulheres estão trabalhando no processamento. O armazenamento proporcionou também à escola da região a possibilidade de servir sempre o açaí na merenda, pois é dele que as crianças gostam e estão acostumadas a comer, e não as comidas industrializadas provenientes da cidade. Mas o mais importante deste projeto foi a possiblidade de levar a tecnologia da geração de energia solar e mostrar para estas comunidades que apesar de recente, esta tecnologia já está acessível para todos e pode mudar muitas vidas para melhor.
A história deste projeto será mostrada em breve em um documentário produzido pelo Fundo Socioambiental CASA. Assine nossa newsletter para receber esta e outras novidades.
Fotos: Attilio Zolin/Fundo Socioambiental CASA