Projeto promove soberania alimentar em comunidade quilombola potiguar
A pandemia tem afetado todas esferas da sociedade, mas, são as pequenas comunidades periféricas, ribeirinhas e menos assistidas socialmente que mais sentem o efeitos desta crise de proporção mundial.
A comunidade quilombola da Picada, localizada na zona rural do município potiguar de Ipanguaçu, historicamente tem sofrido pela falta de assistência social por parte do poder público. No entanto, a população assentada tem resistido com resiliência, sempre buscando soluções para amenizar as dificuldades impostas pela atual conjuntura. Com o objetivo de apoiar grupos da comunidade, foi criado o projeto Picadas de Arte e Renda que está implementando ações para minimizar os efeitos da pandemia, tendo como pontos chaves o fortalecimento do turismo de base comunitária, a soberania alimentar, e a promoção social. A iniciativa foi aprovada na I Convocatória de Projetos 2021 de Apoio a Grupos de Base no Enfrentamento da COVID-19 do Fundo Casa Socioambiental e faz parte do Programa Fortalecendo Comunidades.
Atualmente o projeto encontra-se em execução com as oficinas de Cultura Alimentar e Gastronomia, que estão coletando informações na comunidade para a publicação de um livro com receitas que fazem um resgate da cultura alimentar dos primeiros quilombolas da Picada, além da oficina de elaboração de projetos sociais e culturais. Todas as atividades do projeto são coordenadas pela Associação Comunitária Sócio Cultural da Picada.
Fortalecendo a economia criativa e promovendo a soberania alimentar
Paulo Márcio, presidente da Associação, destaca que “dentre as ações apoiadas também constam a retomada das atividades de turismo de base comunitária por meio de encontros de formação e diálogos produtivos no campo do empreendedorismo, estimulo a cadeia produtiva local, fortalecimento da cultura alimentar, aproveitamento da sazonalidade da colheita e produção de polpas de frutas, diminuindo perdas siginicativas pela perecibilidade e desvalorização do mercado consumidor.” Outra ação que visa a garantia alimentar e geração de renda é a instalação de uma cozinha comunitária, que servirá para a produção de doces, preparação e comercialização de alimentos na comunidade, com a aquisição de barracas (tipo feirante), bem como a preparação de pratos para grupos visitantes e realização de sopões comunitários.
Para Luiza Helena, aluna da oficina de gastronomia, esta é uma ação muito importante para a comunidade pois “permitirá que um grupo de mulheres empreendedoras possam valorizar os alimentos produzidos no local e transformar estes alimentos em um negócio através do preparo e venda de pratos (delivery), com receitas típicas da Picada”. Para a gastróloga Layanne Alencar, “É satisfatório ver o envolvimento das mulheres nas atividades do curso e a experiência mostra que é possível ter um aproveitamento saudável, saboroso e nutritivo dos alimentos que usualmente são descartados no dia-a-dia da comunidade”. No campo cultural, o projeto busca o fortalecimento dos negócios criativos, do artesanato, da gastronomia local, da literatura de cordel, (oficina e criação de uma cordelteca) e apoio ao Afroarte, grupo de dança local. No campo da comunicação social, a realização de uma oficina e a formação de um núcleo de comunicação que com o uso de novas tecnologias e o envolvimento dos jovens, pretende criar uma espécie de assessoria de comunicação das ações do projeto, da associação e a serviço de toda a comunidade.
Realização de Festival Gastronômico da Picada será ponto alto do projeto
Visando possibilitar a melhoria na renda, segurança alimentar e o estímulo à novas alternativas econômicas que minimizem os impactados atuais, será realizado o I Festival Gastronômico da Picada, com data prevista para 19 de novembro. O Festival contará com uma feira agroecológica, atrações locais e busca movimentar economicamente e comunidade, com a geração de renda proveniente da produção artesanal, da agricultura, da pesca e do turismo sustentável. É importante ressaltar que o fechamento das escolas e a permanência dos alunos em casa trouxe o aumento do consumo alimentar e mais dificuldades financeiras para as famílias.
A Comunidade da Picada fica localizada no município de Ipanguaçu no Rio Grande do Norte e é formada por descendentes de negros escravizados que vieram do brejo paraibano, em 2010 recebeu o reconhecimento como comunidade Quilombola pela Fundação Palmares. A Picada tem uma população de aproximadamente 700 habitantes, contendo 139 núcleos familiares que praticam a agricultura de subsistência, desenvolvem atividades de pesca, artesanato, caprinocultura e criação de galinhas. A principal fonte de renda familiar advém da aposentadoria dos idosos. A comunidade faz parte do assentamento Pedro Ezequiel, sendo uma das 06 agrovilas que compõe o território.
Matéria enviada por: Alexandre Santos/Associação Comunitária Sócio Cultural da Picada